domingo, 1 de maio de 2016

Fragmento de um calote que o tempo vai revelando insolúvel.

Vai com calma, meu filho. Tens tempo. É preciso arejar, é preciso sair e andar pelas ruas a aprender a conhecer a vida. Não sabes nada da vida. Este mundo onde estás, que por vezes vais detestar, ainda não tem lugar para ti. Bem sei que verás gente que tem um ar tão à-vontade neste mundo onde tu não tens ainda lugar e que te questionarás como conseguem elas falar, exprimir-se, ter uma pele tão limpa, os cabelos tão bem penteados? Com que sabonete se lavam? Que livros leram? Quem as escutou? Nasceram já armadas? Enquanto tu apenas apanhas fragmentos dessa vida que elas parecem dominar com total à vontade. O lugar delas está reservado. Tu ficas ali, de pé, em equilibro, em lista de espera, lutando com os teus fragmentos em desordem. Lembra-te que é de ti próprio que virá a salvação. A tua salvação. De mais ninguém. Nunca dos outros. Não esperes nada dos outros. Vai com calma, tens tempo, mas vai.

(obrigado, mãe.)

4 comentários:

  1. Palavras sábias, as da tua mãe. E tu como bom filho num Homem digno te tornaste. Tens a responsabilidade de transmitir o seu legado.
    Fica um beijo para ti e um para a senhora tua Mãe.

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  2. Impontual, as mães (e os pais também) bem amanhadas fazem assim com os filhos.
    Mas olha que não é um calote, pois, a haver, é de ambas as partes. As mães, tal como os pais, também ganham com os filhos. A não ser que 'fragmento' tenha este sentido.

    Gostei mais que muito!

    Abraço

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  3. Que bonito, Impontual. :)

    Eu espero um dia ser uma boa mãe. :)

    Um abraço. :)

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