quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Disgeusia.

Nos dias que correm, a gente da Rede gosta muito de travar batalhas -- e, melhor, de as ganhar -- sem sair do sofá, do computador ou do telemóvel inteligente. Barafusta, reclama, exulta, critica irónica e convictamente. Até regozija. Mas depois não consegue ler, ouvir, apreciar sem vertigem, sentir algum pasmo ou assomo. Estão, por assim dizer, moribundos, os seus olhos e ouvidos estão apagados. Mas a boca não. Questiono-me sempre absurdamente: que gosto lhes ficará na língua? Enxofre? Só se for.
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O grande Dylan lá ganhou o Nobel, não foi? Coitado, deve ter as orelhas arder.

9 comentários:

  1. Impontual, acho que consigo perceber a confusão que foi para muitas pessoas (e são imensas pelo que já li hoje) o facto do Nobel da Literatura ter sido atribuído a um compositor/cantor. O gesto primeiro é ligar literatura a livros e não a letras soltas que tanto podem terminar em livros, como em canções. Mas o facto é que são letras e letras todas juntas formam poesia. A poesia tanto pode ser lida através de livros, como ouvida através de canções. Este pode ser o primeiro passo para ver o Nobel da Literatura com outros olhos. Diria que nada tenho contra e nada tenho a favor. Conheço algumas canções de Bob Dylan, gosto, e agora aguçou-me a curiosidade o livro que escreveu e que eu, sem qualquer problema, admito nunca ter ouvido falar. Falo de "Tarântula" que pretendo comprar só por curiosidade. Pelo menos a polémica resultou em algo positivo, levou as pessoas a falar de livros. Não me parece um balanço negativo.

    Tenha uma boa noite :)

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    1. MM, sobre o assunto em epigrafe, de negativo temos que de convicção vertiginosa está o mundo cheio. Tendo a concordar consigo de que a agitação de ideias -- estapafurdias incluídas -- resulta sempre num balanço positivo.

      Obrigado. Boa noite.

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    1. Tenho aqui à mão o Blowin in The Wind. Quer?

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    2. Dylan foi a minha música ao jantar; podia ser outra? E voei, pode crer.
      Obrigada pelo encore. :)

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  3. Uma enorme e assustadora fatia dos que se movem na Rede têm como único móbil o arranjar do que dizer mal! Isso faz-me imensa confusão... mas Deus me livre de dizer mal dessas almas... porque senão fico "enxofrada" e eu não quero essa vida para mim.

    Beijinhos musicais
    (^^)

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  4. Chego a pensar que os horizontes estreitos, os tenho eu. De tão pouco ler, não compreendi ainda que a Literatura é uma arte estanque, limitada, rígida. Nela não cabe a poesia. Na poesia, por sua vez, não cabe a música, nem elas podem ser intrínsecas, porque são compartimentos diferentes. Um músico não pode ser, antes de qualquer outra coisa, um poeta, que, ainda por cima, tem o dom de musicar as suas próprias obras. Nem tão pouco uma pessoa que, compilado todo o seu trabalho, daria ao mundo tomos e tomos de melhor poesia do que muita da que para aí se aplaude, se chora, se paga.
    É isto, não é?

    Bom dia, Impontual :)

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  5. Concordo contigo :) mas também acho que nem metade dessas batalhas seriam travadas se as pessoas tivessem de as lutar cara a cara... o ecrã salva muitos cobardes.

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  6. Estão todos demasiado preocupados em opinar se gostam ou desgostam. Criticar impera, como sempre.

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