terça-feira, 8 de novembro de 2016

A imposição do cinza.

Recordo como se fosse hoje. Foi num dia cinza, cinza, cinza da cor do tédio. Atrás do mar, agitado, via-se um magote de nuvens presas no fim do horizonte a enclausurar o céu que ganhava a passos largos uma associação a reminiscência desagradável. A textura do silêncio em redor era de tal ordem que parecia destilado, depurado. Apareceu com a sua graça, com a sua ousadia e humor. Trazia algo de cândido e provocante ao mesmo tempo. A surpresa do diálogo ocasional a intensificar uma impaciência de mãos, os lábios agudizados pela chama ágil do olhar intenso, o cenário a oferecer conotações incitantes e a impaciência a não permitir grande margem para adiamentos, um braço invisível, tórrido, a indicar com delicadeza o túnel do pecado em direcção ao lugar de todos os sacrilégios, onde tudo correria na perfeição, sem quaisquer resquícios de outros apegos, mas apenas atordoados pelo sentimento de posse mútuo, pelo desprendimento, pela frenética simultaneidade, pelo infantil sentimento da realização momentânea. E assim foi. Num dia cinza, cinza, cinza da cor do frio.

5 comentários:

  1. Sempre preferi os dias cinzentos. :)

    Um beijo, I. :)

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    1. Isso é porque os dias cinza têm muitos atalhos. :)

      Abraço

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  2. O túnel do pecado é paradisíaco, em qualquer cor, nos dias cinza é como verdadeiro sol na pele. ;)

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    1. Então deve ser dai que vem a expressão "uma luz ao fundo do tunel". Não? :)

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    2. Certamente... Às vezes também acontece vir seguida daquela outra... Ooops era um comboio ;))

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