segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Teresa

Custava-lhe muito fazer aquilo. Sabia que estava a deixar tudo para trás. A mãe, Tecas - o gato maltês, a carreira que nunca lhe agradara, tudo o que fora a sua vida até aí. Mas aquilo não foi verdadeiramente a sua vida. Conseguia agora perceber que nunca passara de um reflexo das vidas de outras pessoas.
Apesar de tudo, já sentia saudades da mãe. Sempre irá sentir a falta dela, a força da sua persuasão. Fica a imaginar quanto tempo irá demorar a perceber que se fora embora. Do lado de fora da janela, Lisboa passa a correr. O ar está límpido e frio e os aspersores assobiam junto aos passeios. O autocarro segue com velocidade, uma sombra esguia que passa por entre as luzes da cidade e algures, no meio da escuridão parece capaz de dizer qual o momento exacto em que a mãe aceita a sua partida. Suspira e esconde o rosto nas mãos, sem dizer uma palavra. Nesse momento sente a tensão abrandar, subitamente. As outras pessoas que vão no autocarro não notam nada, mas durante este tempo todo, tem estado cada vez mais leve e mais vazia, até que agora, por fim, começara a sentir-se a emergir. Era apenas uma rapariga que vai passar pelo resto da vida como o vento.

12 comentários:

  1. Eu deixei a minha casa. Fui para Lisboa. Regressei a casa. E depois vim para Inglaterra. Continuo a ser vento. Não sei quanto tempo vou permanecer aqui.

    Deixo-te um abraço, I. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Alaska, quer tomar um chocolate quente em Covent Garden? Espero por si no Jubilee Market. Depois levo-a a casa.

      Até lá.
      Um abraço.

      Eliminar
    2. Eu não sei onde é a minha casa, ainda. Mas se tiveres tempo, podemos prolongar o chocolate quente pela tarde, e talvez descubra. :)

      Um beijo, I. :)

      Eliminar
  2. também já fui, mas voltei sempre :)
    boa semana, Impontual.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Partir é diferente de ir embora, não é Laura?
      Obrigado. Boa semana.

      Eliminar
    2. Só se parte dos sítios que são nossos. Dos outros vamos embora. Só se parte de onde nunca se consegue partir.

      Eliminar
  3. Há sítios que às vezes abandonamos, fisicamente só, ficam para sempre.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Embora, como diz o poeta, ás vezes voltemos estrangeiros.

      Boa tarde, Conta corrente. Como está?

      Eliminar
    2. Esperançado numa boa semana!

      Eliminar
    3. Faço votos para que assim seja. .)

      Eliminar
  4. Ficará mal dizer que... todos temos uma Teresa dentro de nós?... :-)
    De uma forma ou de outra... já teremos quase todos, certamente, passado por semelhante estado de espírito...
    Beijos! Boa semana!
    Ana

    ResponderEliminar