segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Núpcias

Vaguear pelos meses em doces nostalgias, recusar durante longo tempo a ideia do amor e embriagar-se de amargura. Depois, sem se curar da recordação, descobrir-se diferente, mais vivo, longe das expectativas, interessado na pessoa menos cheia de certezas que sentia fremir dentro de si. Horas maravilhosas de solidão, uma espécie de lua-de-mel consigo mesmo. Uma verdadeira alegria interior a surpreender aquele desgosto que se julgava infinito, naquele momento em que as cores e as emoções ainda não foram devoradas pelo calor. Sentir o desejo de agradar a si mesmo, prelúdio ao prazer. Mergulhar em si próprio, rodeado por uma música interior, construir um abrigo e às vezes elevar-se para observar de longe. Sentir mesmo gosto em frequentar esse universo alargado de pessoa só, sem se atolar em delírios de desgaste lento.

27 comentários:

  1. Isso estará mais para paraíso, não?

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    1. Quem sou eu para julgar, com vista de pouco alcance, algo que pode estar a léguas de distância?

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    2. Não vou. Não arranjei bilhete. Fico-me por aqui mesmo, pela terra, sem lua de mel nem paraíso. Uma injustiça yes it'is

      :-))

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    3. Talvez na terra onde se deixa ficar haja apenas um pecado capital: a sofreguidão. Veja lá isso, noname.

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    4. Fique descansado, não será por aí :-)

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  2. A própria dor adormeceu no nosso colo
    como um animal de companhia


    belo texto, I.

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    1. «Ainda ontem estávamos sozinhos diante do horror
      e já somos reais outra vez.»

      ( flor, não me traga o saudoso que este misto de alegria e tristeza momentâneo, não me faz bem)

      Abraço

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    2. :) fujo já, para não incomodar. um abraço.

      Todavia em vez de metafísica
      ou de biologia
      dá-me para a mais inespecífica
      forma de melancolia:
      poesia nem por isso lírica
      nem por isso provavelmente poesia.
      Pois que faria eu com tanto Passado
      senão passar-lhe ao lado,
      deitando-lhe o enviesado
      olhar da ironia?

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    3. Incomodar!!!A flor bem sabe que aqui sempre pôde entrar pela porta que dá para a memória. :)

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  3. Quando conseguir a receita para concretizar essas núpcias, lembre-se de mim, Impontual.
    Também quero.

    Abraço.

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    1. Receita temos sempre. Ingredientes é que... por vezes...

      Abraço

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  4. Quantas vezes não é a solidão a melhor companheira?

    Abraço

    :)

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    1. A solidão sempre foi a melhor companheira dos desacompanhados. :)

      Abraço, meu caro CN Gil

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    2. Senhores - sentir solidão e estar só - não é a mesma coisa-

      Quanta gente por aí, estando acompanhada vive na maior solidão
      Quantos sós, são a sua melhor companhia e vivem felizes.


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  5. Também eu às vezes namoro comigo própria:)
    ~CC~

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  6. ...lá diz o ditado; mais vale só de que mal acompanhado. Mas também ás vezes não somos boa companhia de nós mesmos, tem dias[risos]

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  7. Uma espécie de "mindfulness". Será?

    Costumo lê-lo e hoje identifiquei-me com o processo que descreve. Tento praticá-lo continuamente, mas ainda não consegui. Fazê-lo de modo intermitente é já uma excelente ajuda.

    Espero não ter incomodado. Gosto do que escreve. Obrigada.

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