quinta-feira, 12 de julho de 2018

Palomar


De todo o movimento do Sol na esfera celeste, há um momento que o Senhor Impontual gosta de apreciar com particular delicadeza - que é aquele momento em que o Sol diz para a Lua: vem. 
O Senhor Impontual, por breves instantes, consegue colocar-se no lugar do Astro-Rei e saborear a delicia de saber-se compreendido, trespassado por um olhar inteligente que parece evitar-nos obstinadamente. Aquela observação recheada de subentendidos a dizer, sem impor, toda a sua verdade, sem que tenhamos que delinear quaisquer subtilezas. Eis o mais embriagador de todos os prazeres: ser adivinhado, observado escrupulosamente, reconstituído a partir de deduções e por fim reconhecido na sua sinuosa complexidade. 
O Senhor Impontual gosta de acreditar que um dia a Terra travará de súbito naquele preciso momento e por ali ficará, estática, durante um instante mais alongado.

3 comentários:

  1. E o Senhor Impontual já sentiu esse prazer indizível, de ser adivinhado por alguém e reconstituído, integralmente, como se fora o Sol a chamar a Lua?
    Imagino que sim...:)

    Que maravilha de fotografia! E claro, sem exagero, um belíssimo texto a complementá-la.
    Parabéns, Impontual. Escreve coisas lindas.

    Deixe que a Terra gire e viva as suas férias em beleza.

    Boa noite.

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  2. Antes assim...se o Sr. Impontual gostasse de acreditar que a terra é plana seria mais preocupante.
    Boa noite. Bom lusco-fusco.

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  3. Boa noite, Sr Impontual
    Foram aquelas estrofes do poema "Pra não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré que fizeram explodir este belo texto?

    Imagine-me como um balão preso nas mãos de uma criança por tão contente ter ficado.

    Um abraço

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