sábado, 29 de setembro de 2018

Opróbrio

Diz-me o Nobel da Literatura 2018 - eleito por mim -, num dos capítulos do tal livrinho que me faltava na prateleira, que muitas vezes estamos zangados connosco próprios ao ponto de aproveitarmos todas as ocasiões para nos sentirmos culpados. Mas que isso não é grave. E que sentirmo-nos culpados ou não tudo se resume a isto: a vida é uma luta de todos contra todos. É sabido. Mas numa sociedade mais ou menos civilizada, as pessoas não podem atirar-se umas contra as outras assim que se veem. Em vez disso, tentam lançar sobre o o outro o opróbrio da culpabilidade. Ganhará aquele que conseguir tornar o outro culpado. Perderá quem confessar o seu erro.

Também Agustina, em Antes do Degelo, defendia a tese dolorosa e empolgante que é o facto do homem, a quem o factor culpa é necessário para provar a sua humanidade, não poder viver senão com o sacrifício do seu destino.

Já eu e o Cão de pelo pardo que estamos aqui sentados em frente a este mar de putas, liso como a curva do céu da mesma cor, observando as ondas que deixam escorregar, lentamente, as suas línguas estreitas ao longo do areal, fervilhando e desaparecendo pela areia pálida e saibrosa, não entramos nessas lutas. Mas temos pena dos rapazes que esperam desesperadamente pela ondas ascendentes. Estamos em crer que as pranchas vão ficar espetadas na areia a tarde toda. Mas não estaremos cá para ver. Bora Fiodor, bora.

1 comentário:

  1. Nunca me zanguei assim tanto comigo mesma a ponto de proceder de acordo com o que diz o seu Nobel da Literatura deste ano, Impontual. Aliás, se errar, não me custa nada confessar que errei sem que, com isso, me sinta uma perdedora. Não há opróbrio que me atinja…canalhices, resvalam por mim como chuva em oleado encerado.
    Acredito, contudo, é que há gente de má índole, que atira a culpa para o outro, na tentativa de o fazer sentir culpado, ainda que o outro não seja culpado de nada. FdP… é o que é!

    Boa noite, Impontual.
    (Cuide bem do Fiodor…incuta-lhe o sentido da honradez e lealdade. Que se não atire às canelas de nenhuma donzela, por exemplo.)

    :)

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