quarta-feira, 22 de maio de 2019

Desaparição

Chego à casa. Finalmente. Avanço no escuro. No escuro e no vazio. Não arrisco embater em nada, excepto nas paredes. Tudo parece mais vasto e os meus passos ressoam. Pelas janelas entram os reflexos azuis da lua. É o instante de maior desapossamento. Da inigualável solidão.
A casa já não é a casa, os quartos já não são os quartos, são apenas espaços intocáveis, sem ocupantes, sem vida, lugares desimpedidos. Esta desolação, este despojamento é verdadeiramente a ausência. É o que mais se parece com a ausência. É um território ao abandono, estéril. É o silencio apenas perturbado pelo ruído dos meus passos no soalho nu. Ando sem me dirigir a nada em particular. Ando na casa que já não é a casa, desamparado. Os meus olhos habituam-se ao escuro. Trago comigo o odor da desaparição.
Não sei o que fazer àquilo. Ou melhor, sei.

10 comentários:

  1. É o que eu digo e eu digo o que sinto.
    Com essa sua tão peculiar e envolvente forma de descrever as coisas e os sentimentos, o Impontual daria um excelente escritor ao estilo de Paul Auster.
    Mas não o Auster de agora, aquele que me fez ler até à exaustão a "Trilogia de Nova Yorque" e "Leviathan", entre outros.
    Repito, pense nisso.

    Tenha uma boa noite.

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  2. Talvez tenha chegada a hora de terminar um capítulo e iniciar outro.
    Será?

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  3. "Ando na casa que já não é a casa, desamparado."

    (a house is a house is house is a house)

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  4. Eu não sei quem o perdeu, ou por quem foi perdido, mas, uma casa, será sempre, uma casa. Pode-se, é deixar de a sentir como um lar. Assim sendo, aconselho-lhe a regra dos 3F's - curta a fossa, largue a fossa e siga em frente.

    Tenha um bom dia

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  5. Uns copos a mais traz essas lamúrias, Mister Impontual
    Uma noite menos turva é o que lhe desejo
    😂

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  6. "Left alone in desert
    This house becomes a hell
    This love becomes a tether
    This room becomes a cell"

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  7. Se sabe, então sabe que às vezes é preciso reconstruir. Mais que edificar. :)

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