quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Pintar Março

Vem posar de dois em dois meses. Sempre no inicio do mês, sempre no inicio do dia, sempre a uma Quarta-Feira. Estamos no fim de Fevereiro. Falhou Janeiro. Entrou com uma elegância intrínseca que se destaca desde logo no detalhe como se senta e olha de frente com a cabeça bem levantada. Uma beleza sólida e atraente, caracterizada por linhas limpas e essenciais, realçadas pelo grão natural da pele. 
De repente, sente-se aquele tremor delicioso que os panoramas grandiosos nos despertam. Somos simultaneamente Deus e nada. Somos ao mesmo tempo o céu e o grão de areia. Depois vem aquele matraquear surdo, uma mudança de luz -, voltamos à terra. 
Não sei lhe pinte a pose de confiança no olhar, harmonizado com a sua postura ou se lhe esboce as mãos ausentes sobre o regaço. Mãos que albergam memórias inquietas e gritam: não sou! não vou! não quero!

5 comentários:

  1. ...e, quem pinta assim, não é um Miró, não!

    Pintor qué pintas los Angeles y no me pintas a mi...

    Boa noite, I. :)

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  2. Gostei muito do esboço final, três pinceladas em tons de ñ! Movimentos espontâneos e ondulantes, condizentes com o desabrochar da vida. Já aperta a saudade das caminhadas a pé descalço sobre a areia molhada, sob o céu ruborizado.
    Apreciei mais que muito esta prosa poética :)
    Votos de um bom resto de semana.

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  3. Eu gostava de ver as mãos, as memórias inquietas...

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