Estou sentado na esplanada olhando o horizonte marinho enquanto degusto uma cerveja artesanal. Duas mesas ao lado, dois jovens alunos do 12º ano, desgostosos, enxovalham em dose dupla a obra do grande poeta que lhes tem sido dado a conhecer nas aulas de língua portuguesa. Ao ouvir estes miúdos, desapontados, tenho vontade de fazer umas visitas agrestes a alguns professores, bom dia sou da polícia poética, o senhor é acusado de ter introduzido nas cabeças juvenis de miúdos de dezassete anos a sua mediocridade, a sua incompetência para levar a amar qualquer poema, pois disseca-os até ao osso, explica-os até os reduzir a uma casca vazia, sem sabor, nem sentido, palavras justapostas desprovidas de sonoridades e de magia. Está, por isso, preso por atentado contra a poesia pura, crime contra Pessoa, violação e violências racionalizantes sobre adolescentes de menos de dezassete anos.
Visualizo perfeitamente estas cenas, as algemas, a fisionomia desfigurada daqueles a quem nenhumas contas foram alguma vez pedidas...
Perscruto de novo o horizonte marinho, agora mais sombrio, dou mais um trago na magnifica cerveja de cor rubi, constato o sabor intenso a cevada, assim como lhe noto o lúpulo da melhor proveniência.
Perscruto de novo o horizonte marinho, agora mais sombrio, dou mais um trago na magnifica cerveja de cor rubi, constato o sabor intenso a cevada, assim como lhe noto o lúpulo da melhor proveniência.