Tem dezoito anos de idade, estuda no primeiro ano da faculdade. Conta-me, enquanto contempla as lombadas dos livros bem torneados e arrumados na prateleira, que anda a ler Anna Karenina e que não sabe se vai conseguir aguentar o livro até ao fim. Que tem chorado muito. Lágrimas grossas. Que enquanto lê, o seu coração palpita nas trevas do seu quarto. Que quando Anna foi ver o filho às escondidas ao palacete de S. Petersburgo, com a cumplicidade do velho mordomo e o marido a surpreendeu, parecia que ela própria estava no quarto de Sergei, ali a assistir a toda aquela cena. Que naquele livro tudo produz sons: as campainhas dos cavalos detendo-se diante do portão, as pesadas portas do palácio que se abrem e fecham no mesmo instante, o roçar dos vestidos e os passos precipitados na grande escadaria. As lágrimas e o medo do passo forte do Conde Karenin, o seu olhar impiedoso que numa simples ordem muda remete a sua heroína à sua vida de mulher adultera, desprezada por todos. Questionando-me com uma emoção latente: "como conseguia Tolstoi fazer aquilo?"
só alguns, poucos, o conseguem...
ResponderEliminarmuito poucos.
EliminarA volúpia da leitura. Também não é para muitos viver as palavras com tanta intensidade.
ResponderEliminarBom final de Sábado, Intemporal :)
É essencialmente issõ: beber palavras.
EliminarBoa semana, Maria.
Há autores que têm essa capacidade de nos transportarem através das palavras para dentro da trama.
ResponderEliminarUm bom exemplo é " O perfume" de Patrick Süskind, consegui sentir alguns dos cheiros que ele descrevia enquanto lia!
Bom fim de semana :)
É isso. Entrar e sonhar pela mão/cabeça de outrem.
EliminarBoa semana.
Belo texto
ResponderEliminarno espaço largo do tempo
Obrigado, Mar Arável.
EliminarO tempo esse parceiro insuperável.