Estou sentado junto ao que resta da igreja matriz, de cujo interior, segundo consta, saíam em tempos cânticos hinários, entoados em idiomas bíblicos. Gaivotas circulam baixo e, por vezes, cautelosamente, poisam, em bandos estridentes. O tempo flui e nascem trevas que logo se dissipam. Ou foram apenas brumas procedentes das marés. Agora a largos intervalos tombam gotas nos telhados de zinco gasto, provocando tristes ressonâncias. Mas não chove. Ou, se chove, de onde cai a chuva? Do céu não é, esse está aberto numa claridade primitiva, os aromas são subtis mas profundos. O marulhar da água é ameno. Os raios de sol são paralelos ao atingirem o mar. Aliás tudo no Universo é paralelo. Contemplo o mar, como se o mar fosse uma estrada ou um ligeiro presságio mordido e rendilhado pelo bater das ondas.
Ocorre-me que é isto que nos impede de morrer: andarmos surpreendidos desde que começou o fadário. Tenho muita sorte com a minha profissão que, entre outras agruras, me permite construir destinos. Ou reconstruir, vá lá.
Mas... e o que é o destino?
- Talvez seja isto mesmo: construir para permitir a destruição.
Destruição é uma palavra muito áspera, Impontual.
ResponderEliminarConsultei o dicionário para a definição de destino, se bem que não precisava, mas foi de encontro ao que eu penso a cerca desta tão enigmática palavra. https://dicionario.priberam.org/destino
E para ser mais brejeira lembrei-me da música do Toni Carreira, "Ai destino ai destino", prontos podia dar-me para pior[risos]
Bora lá gargalhar :)
Boa tarde,
ResponderEliminarEntão como vai? Isso é que é cá um fadário de uma fadiga. Anda-mos todos de vela a vê-la.
Um bom resto de terça feira, Mister Impontual ❤️
Benditos os que ainda têm a capacidade de se deixar surpreender.
ResponderEliminarCertamente, será ainda esse constante deslumbramento o elo que os prende à vida.
Continue na sua projecção de construção de destinos alheios, Impontual, outros cumprirão o destino de os ir destruindo com o passar do tempo. É a vida! :)
Boa noite, Impontual.
É bonito ter a profissão de construir e reconstruir destinos. Acho até certo romantismo na ideia. Talvez a vida não nos seja marcada de antemão. E nem precisa, nós mesmos e as condições em que vivemos a determinamos sem querer. Fatal como o destino:).
ResponderEliminare eu uso a câmara para captar o que existe e o que se destrói, talvez para construir-me.
ResponderEliminarolá, I. :)