Os solitários sabem em carne viva que a imposição de uma tarefa tão simples como passar doze horas a esfregar uns sapatos reluzentes, ou doze minutos a aparar o bigode, demonstra, se duvidas houvesse, que a fome de companhia ou a sede de solidão se transformam facilmente em angustias físicas porque o seu alivio nunca depende do esfomeado ou do sedento mas de outro, de alguém, de um semelhante que ofereça um bocado de amizade ou um gole de carinho. O trânsito por este mundo é uma moeda ao ar, um milagre ou uma ciência viva, um tédio ou uma aventura, uma derrota ou uma vitória, uma sorte ou uma maldição, um calvário ou um festim, um inferno ou um paraíso, mas quer a moeda caia cara ou coroa, a outra face será sempre a melhor das surpresas.
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