quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Enfunar

A verdade é que não existem planos que possam reger de maneira fiável o nosso relacionamento com os outros. Não há padrões fixos nem mesmo quando o sentimento primordial que nos governa seja o do afecto. Porque é que perante o mesmo estimulo, umas vezes reagimos com ira e outras com tolerância ou, inclusive, complacência? Porque é que às vezes uma coisa tão vulgar como contemplar alguém querido a segurar uma chávena de café pode precipitar-nos, segundo o dia, do agrado à repulsa extrema. Porque é que às vezes basta um olhar para que nos julguemos vacinados contra toda e qualquer desgraça futura e outras, pelo contrário, é precisamente o mesmo olhar o que faz com que nos afundemos na mais cega melancolia? Costumamos pensar em nós como seres imutáveis, baseados em códigos e gostos fixos, quando na realidade estamos em permanente luta connosco próprios. Dizemos frases como "amo-te" ou "não te suporto mais" e tendemos a crer que estas frases definem o nosso estado de alma, quando na realidade as alternamos como o vento - sempre em mudança de direcção.

14 comentários:

  1. "O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê." - Concordas?
    Impontual, é assim como dizes, sim.
    Bom dia!

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    1. «Assim é que as enseadas serenas estão para além das vagas montuosas, que lá cospem o naufrago aferrado à sua tábua. Sem o impulso da tormenta, o naufrago pereceria no mar alto. Foi a tempestade que o salvou.»

      Boa tarde, Isabel.

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  2. Vemos as coisas pelo nosso olhar, não pelo que são. Há dias em que observar alguém segurar uma chávena de café é reconfortante e melancólico, em que nos lembra o afecto que temos a alguém ou até o porquê desse afecto, outras olhamos e vemos apenas uma inércia ensimesmada que nos afasta compulsivamente. Nós não somos sempre iguais, mas somos sempre o mesmo, por isso voltamos aos mesmos sítios com os mesmos olhares, oscilamos entre os mesmos opostos e seguimos o caminho sem guinadas bruscas ou grandes saltos.
    Bom dia, IMpontual

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    1. Apetece dizer que, então, se entregue o ónus da responsabilidade da tolerância aos de visão mais ampla. Aos que vêem o todo de todos. :)

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    1. Obrigado, meu caro CC. Mas, não quero esse ónus num assunto desta subjectividade.

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  4. Somos assim, sim.
    uma espécie de panela que ferve, arrefece, estraga, preserva.

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  5. quando encontrar a resposta, diga sff.

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    1. Está sentada, ana? Fujo das respostas como o diabo da cruz.

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    2. eu sei esperar. quando souber, diga. cá estarei.

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    3. ana, não sei como dizer-lhe isto. Creia-me: sou mesmo impontual.

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  6. O homem tem a alma susceptível de contágios espontâneos e, daí, a indústria farmacêutica ter criado o Xanax...

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    1. Somos uma sociedade com notória tendência para depressão colectiva.
      E sem dúvida um grande manancial de negocio para a industria farmaceutica.

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