segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A cidade, o mundo e a dor

Corredor de hospital, oitavo andar, secção F, serviço da enfermeira Amélia. Ali, a vida resume-se a duas palavras: sofrimento e desesperança.
Amélia, de bata azul e branca, distribui medicamentos. Olhares expectantes, meios-sorrisos, uma distracção, breve relâmpago do exterior que penetra no interior dos quartos. Amélia sabe-se mensageira, portadora dos rumorejos do mundo, como se a ela se atrelassem, aos seus cabelos ou à pele do rosto, os pequenos odores e partículas da cidade e do mundo, difundindo micro-organismos e miasmas que cada qual açambarca como pode. Por ora, é prenda urbana oferecida por Amélia. Para já não falar nos ansiolíticos, analgésicos e morfinas que lhes injecta nas veias.

3 comentários:

  1. Enquanto não surge, neste mundo de dor e pranto, um cérebro que reúna as qualidades de um Pasteur e Robert Koch, por exemplo, serão as enfermeiras Amélias, que levarão o lenitivo a todos os pisos, de todos os hospitais, onde a vida se resume a tristeza e desesperança. Quero acreditar que o olhar, dessas Amélias, seja doce e compassivo...Só eficiência é tão pouco...

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  2. E quantas Amélias haverão por aí assim? Gostei de ler!

    Beijinhos e uma excelente semana

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  3. O conforto na dor devia ter um lugar fundamental em cada hospital deste mundo.
    Bom dia Impontual

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