terça-feira, 11 de maio de 2021

Funes

Quantos iluminados, quantos artistas de uma fé em que ninguém excepto eles confiam, se humilham e varrem a serradura de quem dorme com eles, e provavelmente lhes dá de comer, desde que lhes permita crer que haja algum alento nos seus insignificantes versos; quantos que, depois de o tempo se aposentar e favorecer os sarcasmos, renunciam inclusive ao ilusório reconhecimento do silêncio desde que assim possam continuar a dedicar horas ao que já não representa outra coisa além de um pretexto falhado de esquecimento. Quantos?

2 comentários:

  1. Julga ser assim porquê, senhor Impontual. Porque as pessoas não se enxergam; porque se enxergam, mas preferem não o fazer. Afinal, o artista falhado que não o admite mas sabe que falhou e não tem talento, parece-me ter papel pior e que dá mais trabalho manter.

    ResponderEliminar
  2. Conheço bem esse sentimento... Ao ponto de ter a compulsão de fazer qualquer coisa e renegá-la...
    ...ou fazer só para colocar no fundo de uma gaveta, porque o reconhecimento, no fundo, não interessa para nada!
    Perspectivas que vão mudando com o tempo! Muitos ficam agarrados a uma ânsia de reconhecimento que nunca virá. Muitos só têm esse reconhecimento muito tempo depois do o corpo se ter apodrecido e desintegrado desintegrado nas garras da morte física...
    Outros percebem que são apenas um veiculo, fazem e retiram-se, anónimos. As obras que falem por si, se é que têm alguma coisa a dizer...
    ...e se não tiverem, também nada se perde!
    Mas sim, ainda assim são muitas vezes horas dedicadas a algo que já não representa nada para mais ninguém a não ser o próprio...

    ...ou então, suprime-se a vontade e faz-se "streaming" de dias infinitos de apatia em que factos se tornam mentiras quando vistos à luz das ideologias...

    Abraço

    ResponderEliminar