Já não vinha posar há mais de um ano. Hoje, de repente, apareceu-me do meio do frio. Tenho as mãos e o pés gelados... e a cabeça fugiu-me para parte incerta.
Como vou eu pintar em pormenor, e com tão pouca luz, aquele corpo maduro completamente despido? Os seus ombros redondos e tonificados? A sua penugem de pêssego? Embriagar-me no leve odor das suas axilas, captar cada um dos sinais que tem nas costas, registar os seus cabelos de um ruivo muito suave bem como aquelas nádegas que são de um branco leitoso? Tomar nota das marcas ali deixadas pelo aperto das minhas mãos, da vermelhidão e da velocidade com que a mesma desaparece? Sentir o peso e a maleabilidade inesperados do seu peito quando se deita de costas, do tom suavemente corado dos seus mamilos e da forma como reagem ao mais leve dos toques? O umbigo delicado? O glorioso contraste entre o branco de porcelana da sua pele e o negro, como tinta permanente, dos pêlos púbicos que não são nem espessos nem finos? Como hei-de guiar as suas pernas, afastando-as, para lhe explorar o interior? A sua maturidade? A cor? O pulsar? Colocar a cabeça entre as suas coxas para ter a noção da sua perfeição, sentindo o calor que daí emana como se saísse de uma fornalha intrincada?
Como hei-de eu pinta-la, se estou gelado por dentro e por fora? E a memória me fugiu para parte incerta?
Se depois de enumerar todas as quenturas desse corpo maduro, ainda se diz gelado, cá para mim este pintor deve estar é morto...
ResponderEliminarBom Natal, Impontual!
Mortinho da silva :)
ResponderEliminarFestas Felizes
A memória está aí, bem viva! Pode trazer uma tocata e fuga...
ResponderEliminarÀs vezes, lembrar o calor enregela.
Abraço, caro Impontual.
Há fogos que se apagam. Mas gelado não acredito que esteja pois a descrição ainda brilha. Boas Festas.
ResponderEliminarBrancas Nuvens Negras
ResponderEliminarUm poema sensual, a descoberta da beleza.
Boas entradas em 2024.