quinta-feira, 26 de abril de 2018

Polícia poético

Estou sentado na esplanada olhando o horizonte marinho enquanto degusto uma cerveja artesanal. Duas mesas ao lado, dois jovens alunos do 12º ano, desgostosos, enxovalham em dose dupla a obra do grande poeta que lhes tem sido dado a conhecer nas aulas de língua portuguesa. Ao ouvir estes miúdos, desapontados, tenho vontade de fazer umas visitas agrestes a alguns professores, bom dia sou da polícia poética, o senhor é acusado de ter introduzido nas cabeças juvenis de miúdos de dezassete anos a sua mediocridade, a sua incompetência para levar a amar qualquer poema, pois disseca-os até ao osso, explica-os até os reduzir a uma casca vazia, sem sabor, nem sentido, palavras justapostas desprovidas de sonoridades e de magia. Está, por isso, preso por atentado contra a poesia pura, crime contra Pessoa, violação e violências racionalizantes sobre adolescentes de menos de dezassete anos.
Visualizo perfeitamente estas cenas, as algemas, a fisionomia desfigurada daqueles a quem nenhumas contas foram alguma vez pedidas...

Perscruto de novo o horizonte marinho, agora mais sombrio, dou mais um trago na magnifica cerveja de cor rubi, constato o sabor intenso a cevada, assim como lhe noto o lúpulo da melhor proveniência.

10 comentários:

  1. se precisar de ajuda nas vergastadas, conte comigo. tenho uma professora de literatura atravessada na minha garganta faz tempo. quase me levou a odiar toda a literatura, tal era a sua doença com as opiniões - repetidas à exaustão - dos grandes teóricos das literatura, os únicos que podiam opinar. nós, os idiotas alunos, servíamos para anotar, vezes sem conta, o que os "deuses" diziam. supostamente, deveríamos sentir/ver/ouvir coisas semelhantes.
    quantas vezes - senhor, perdoa-me! - tive vontade de a estrangular em plena aula...

    seria uma vingança com travo a cerveja artesanal :) uma maravilha.

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  2. É assim que eles me chegam...alguns nunca leram um livro, só os resumos dos livros obrigatórios na escola!
    ~CC~

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  3. aconteceu-me, no 12º ano, Pessoas, nem mais um autor.
    o trauma prolongou-se durante anos, creio que só voltei a ler poesia 7/8 anos depois...(na altura, já lhe chamava autópsia e acrescida pela total impossibilidade de ter a minha interpretação pessoal..).

    na FLUC aconteceu-me de igual modo, mas com o Eça e o dito "especialista queirosiano".

    já basta, sim, que para pior...!

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    1. Desculpem estar a meter-me na conversa, mas Alexandra, eu gostei imenso das aulas do dito "especialista queirosiano", passei a ler Eça com muito mais prazer.

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  4. Bom dia. Dá que pensar este seu texto. Não percebi se era uma GRANDE chamada de atenção se era pura ironia poética.

    * Solidão sentida por uma Ave, cansada. *
    .
    Um dia feliz

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  5. Olá!
    Passei e fiquei presa a este pertinente texto.
    É terrível dizer, mas há professores que deviam mesmo ser visitados por "policias poéticos".
    Não sou grande apreciadora de cerveja mas fiquei com vontade de provar uma artesanal.
    Vou voltar, para ler tudo.
    Abraço.

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  6. a malta que faz os programas de português tem
    a sua quota parte de responsabilidade. Ainda me lembro de me mandarem contar adjetivos em redor de um poema.

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