quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Quino (1932-2020)

 


Continuaremos sem saber se o mundo é realmente bonito, mas continuaremos seguros que é extenso.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Também já posso deixar de me importar com as coisas



 Acabei de cortar a erva cidreira. Por mim, está tudo bem.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A finalidade oculta

Qualquer relato tem consequências, e suscitar a hilaridade ou o desprezo no seu destinatário não é a mais grave. Contamos para compreender e para que nos compreendam, contamos por motivos diferentes, mas persegue-nos sempre um propósito, quanto mais não seja o de descarregar o peso. E é aí, sempre na finalidade oculta, onde reside o sentido de cada relato. As palavras e as diferentes peças discursivas que o formam, não têm valor separadamente. A prova disso é que inclusive no relato mais simples é possível encontrar duas verdades que se contradizem ou que às vezes para expressar uma verdade é necessário recorrer à mentira. Nisso não se diferenciam da vida, por isso de pouco servem as palavras se os actos as não corroboram e por isso frequentemente não há só duas verdades simultâneas que contradigam, mas sim uma legião. Nunca mentimos, portanto. Excepto no sentido de que sempre que uma dessas verdades em luta se impõe, nega implicitamente a existência das outras. O nosso problema é termos demasiadas ideias absconsas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Estulto

Fala com segurança, é arrogante, orgulhoso e depreciativo, presume da sua força e acusa, quando pode, os desvalidos. Chora. Pede aplausos aos indolentes. Intimamente não consegue sentir-se aquilo que representa. É o débito, suponho, de quem conhece os ordinários anseios onde todo o mal se origina: não acreditar em si mesmo, ter medo de vaguear mudo e com vergonha, esfumar-se numa névoa de impulsos distintos, tapar os olhos, perder o norte, perder o palco. 
Um verdadeiro idiota. Rodeado de idiotas - como diz o Jumento. E bem.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Outono

Os dias sucederam-se tão rapidamente de um equinócio ao outro. Já nada é novo, já nada no novo mundo é novo. Amanhã, não é uma palavra urgente. Talvez seja uma amostra compassiva de esperança. Outro tempo, outra estrada, outra água. Sol branco, lua triste, noite onde talvez os deuses se encontrem. Tudo embate, reflui ou tomba como matéria retalhada. Não são dias de começo, mas sim dias terminais. Envolvidas no buliçoso silêncio imposto, as pessoas existem sem perceber que permanecem no hoje. Ainda há jacarandás, choupos e oliveiras; claro que há. Não há é amanhã. O amanhã não é visível, tacteável. O amanhã encheu-se das pessoas e as pessoas encheram-se do amanhã. Cheios de uma eterna insuficiência. Digladiaram-se toda a vida, talharam-se de uma só dor.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Das expressões modernas

És uma orelha ambulante, aberta ao rumorejo do mundo, onde os laços rompidos, o isolamento e o medo condenam ao mutismo. Pequenos enclaves onde se desenrolam perspectivas e existências falhadas. És um novo normal. 

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Das expressões clássicas

Se há coisas que a pandemia podia aclarar era que a liberdade de uns acaba quando começa a dos outros. Mas, não.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Camp (style)


Por estes dias de regresso à velocidade e violência o primeiro estranho aparece-me logo pela manhã, no espelho de pé alto.
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Atentai no polimento irrepreensível dos sapatos tendência retro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Eles aí estão...

Estimulando o funcionamento zeloso de uma corte de indivíduos dedicados à cegueira, suspensos do olho frio e do sorriso breve desse homem que nunca se enganara e raramente tivera dúvidas e que sempre convocara Deus como sua testemunha abonatória.