quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O Homem

Nunca se soube, ou se soube ninguém o disse, o que foi feito do Homem. Alguns supõem que conseguiu confundir-se com a multidão que saiu para as ruas no dia seguinte, como se nada de grave tivesse acontecido na noite anterior. Durante um tempo relativamente breve especulou-se de que ainda estivesse entre nós, escondido nalgum recanto do Universo, mas em breve a cidade retomou o seu pulso normal e enormes cartazes publicitários cobriram as ruas para promover as novidades de Primavera. O Jardim Zoológico abriu as suas portas ao som da banda filarmónica; outros animais raros, raríssimos, foram expostos nas jaulas vagas. Também as prisões voltaram a encher-se. Mendigos e vagabundos encontraram refugio por baixo dos arcos das pontes e envolveram-se à pancada com os zombis e os loucos que de noite pretenderam invadir-lhes a propriedade. Dos espigões do cais, os barcos de cruzeiro partiram em busca de novas aventuras. Dezenas de banhistas gozaram o sol nas areias das praias. E as fabulas, as fábulas de sempre, voltaram a ser contadas - mas o homem, mais uma vez, esqueceu-se do homem.  

1 comentário:

  1. No turbilhão da cidade, muitos esquecimentos acontecem. E até o homem se deve ter esquecido muitas vezes, tal como agora se esqueceram dele.
    Pode até andar por aí, mas ninguém o reconhece porque não olha para ele.
    Será?
    Bom fim de semana, Sr. Impontual.

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