Embora seja esse o motivo porque vou escrevendo este relato: porque às vezes tem laivos de alguma beleza, é elástico, é vivo e encontro por todo o lado o leitmotiv do meu deslumbramento: o vício, as loucas tentações, a reflexão ou a violência, o amor ou a indiferença, de tudo me sirvo para viver. Com excepção da malevolência, pois ela nunca me habitou. O ódio não cria, destrói. Estou acima disso. Repito, estou acima da malevolência. São o desejo, a paixão, o desprezo, a repugnância, o que anima a minha vida. Contudo reconheço, também, a força e a fecundidade da indiferença, embora, por regra, esta palavra nada signifique para quem quer que seja. Nem para mim, que às vezes me comporto como um verdadeiro asno.