Vem posar de dois em dois meses. Sempre no inicio do mês, sempre no inicio do dia, sempre a uma sexta-feira. Estamos em Março. Desta vez, tal como a Primavera, veio antes do tempo.
De repente dou por mim a observar um ser distante, mas que sorri e me induz pensar que está apenas a entrar noutra onda. Todavia continuo com a certeza de que os seus lapsos não são apenas aqueles lapsos característicos dos distraídos, mas sim uma luta contra uma corrente que a puxa dentro de si, e que o seu sorriso contém o medo de vir a cair nas suas próprias profundezas, nas quais ficaria encurralada e sem poder respirar. Neste momento o meu desejo era servir-lhe de âncora, sem, no entanto, ser vulgar ao ponto de a fazer saber que esse era um papel que sentimos que ela precisava que alguém desempenhasse. Descobri que a melhor forma de o fazer é chegar quase a tocar-lhe - pôr a mão em cima da mesa, digamos que o mais perto possível da sua sem chegar a estabelecer contacto - e depois esperar que ela se aperceba da minha presença física, estremecendo o corpo como se acordasse de um naufrágio, reduzindo assim a distância entre as nossas mãos com uma pequena caricia ocasional. É provável que este sentido de protecção inviabilize a tentativa de um beijo. Que seria, por ventura, outra forma de fundear aquela embarcação.
Na outra mão tenho a paleta e o pincel. Limpos. De que cor sãos os olhos da Primavera?
De repente dou por mim a observar um ser distante, mas que sorri e me induz pensar que está apenas a entrar noutra onda. Todavia continuo com a certeza de que os seus lapsos não são apenas aqueles lapsos característicos dos distraídos, mas sim uma luta contra uma corrente que a puxa dentro de si, e que o seu sorriso contém o medo de vir a cair nas suas próprias profundezas, nas quais ficaria encurralada e sem poder respirar. Neste momento o meu desejo era servir-lhe de âncora, sem, no entanto, ser vulgar ao ponto de a fazer saber que esse era um papel que sentimos que ela precisava que alguém desempenhasse. Descobri que a melhor forma de o fazer é chegar quase a tocar-lhe - pôr a mão em cima da mesa, digamos que o mais perto possível da sua sem chegar a estabelecer contacto - e depois esperar que ela se aperceba da minha presença física, estremecendo o corpo como se acordasse de um naufrágio, reduzindo assim a distância entre as nossas mãos com uma pequena caricia ocasional. É provável que este sentido de protecção inviabilize a tentativa de um beijo. Que seria, por ventura, outra forma de fundear aquela embarcação.
Na outra mão tenho a paleta e o pincel. Limpos. De que cor sãos os olhos da Primavera?
Pinte-lhe o perfume e a forma, e esqueça a cor dos olhos, Impontual.
ResponderEliminarUns olhos negros podem ver a Primavera com todas as cores do arco-íris, enquanto que uns olhos azuis, não! A cor do que nos rodeia, vêmo-la com o olhar e as cores que trazemos no coração...
Boa tarde, Senhor Impontual!
Castanhos, Impontual, castanhos.
ResponderEliminarA primavera é luz e aromas e os olhos são da cor de quem a sente e de quem a vê.
ResponderEliminarUm bom final de tarde
Para quando, uma foto de uma tela tua, um esquisso, que seja?
ResponderEliminarTalvez assomasse em nós um vislumbre da cor dos olhos da Primavera (e, assim crendo, proporia a apresentação de um esquisso, unzinho que fosse :)
Ah, servir de âncora dá um trabalho!...
ResponderEliminarQue lindo texto!