Passaram a noite num hotel de praia que no andar de baixo tinha um restaurante muito popular e, naquele entardecer de Setembro, o seu terraço com toldos e caniços estava a transbordar de gente cujo o alarido chegava aos quartos e, juntamente com as vozes e as risadas, chegava também um odor a lulas grelhadas e mexilhões em vapor.
Ela olhou-se nua de perfil no espelho do guarda-fatos e observou o baixo-ventre que ia amadurecendo sobre as ancas largas. Antes que se apagasse a luz que ainda restava no mar, estenderam-se numa cama com cabeceira de ferro que, dentro de pouco tempo, começou a gemer, enquanto na praia se ouviam canções entoadas em coro por um grupo que havia lanchado bem. Foi nessa cama que, pela primeira vez ela lhe disse que o amava e que o seguiria para sempre, para todo o lado que fosse, como uma cadela. Depois de ambos se possuírem com uma profundidade desconhecida, ficaram exaustos e suados, deitados de costas em silêncio. Por fim, ela murmurou:
- Agora recita-me outra vez aquele poema.
- Outra vez? Estamos às escuras. Não posso ler.
- Sabes de cor. Começa - disse-lhe ela de forma imperiosa.
- "Pernoitas em mim... e se por acaso te toco a memória..."
Também gosto muito da poesia de Al Berto.
ResponderEliminarBoa noite, Impontual.
Claro que uma mulher de ancas assim só num momento de delírio diz isso. Sabemos que depois quem tem que a seguir é ele...
ResponderEliminarUm texto delicioso... um extrato da vida real!
ResponderEliminarUm casal que se ama, se entrega numa cama de hotel...e que exaustos se tocam mais uma vez, pela poesia!
Belo texto!!!
ir is gonna be a daddy? :D
ResponderEliminaramas...ou finges morrer
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