terça-feira, 24 de março de 2020

Desterro

Não há nada que falte no paraíso: comida, roupa limpa, jornais, colchões , guarda-chuvas, computadores, ecrãs de parede, ecrãs de bolso, sapatos, gravatas, vinhos, bijutarias, flores, óculos de sol, discos, candeeiros, velas, cães, pássaros canoros e peixes coloridos. 
E tintas, rolos, lixas e outros polidores, moveis desirmanados, antigos, antigos - verdadeiras telas em branco. E livros. E a Lady Day na grafonola interpretando majestosamente "solitude". E todas as outras figuras e línguas e alturas e pesos que povoam a manhã inverosímil em que o ( sobre)vivente celebra o terceiro dia de cárcere - essa vida nova, esse mundo novo. Esse tempo morto.

3 comentários:

  1. Que não te falte o ar, nem a janela para o mundo!

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  2. Esse desterro no paraíso, onde nada falta, deve ser a bordo de um Cruzeiro de luxo. Parado, sem navegar.
    Esteja onde estiver, caro I, desejo que esteja de boa saúde.

    Cuide-se.

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