segunda-feira, 19 de abril de 2021

Nelinho

Entrega-se com facilidade. Sente a tentação de cometer o irreparável, de transgredir o sacrossanto regulamento, de desafiar permanentemente a ordem estabelecida da sua vida. Adulto infantilizado, aterrorizado e ao mesmo tempo excitado pelas suas minúsculas ignomínias, sente-se agora, mais do que nunca, secretamente cúmplice de uns e de outros. No ar, suspensa, paira a erradicação do sacrilégio, o sentimento gratificante de não trair em vão. Tenta convencer-se de que tocarem-se ao de leve, acariciarem-se discretamente nos intervalos para café lá do reaberto escritório e uma lufada de sexo cru em sextas-feiras alternadas, onde pode gemer à vontade durante um par de horas e depois voltar a casa, constituem outros tantos sinais de libertação. 
Ó Nelinho! 

6 comentários:

  1. Tenho aqui em casa um marido chamado José Manuel a quem a família mais vetusta apelida carinhosamente (?!) De... NELINHO ...

    "Ó Nelinho!"

    ... a sério ?!...

    Francamente.

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    Respostas
    1. Zezinho, estaria melhor? Embora seja igualmente prístino.

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  2. Quando o reencontrares, querido Man With a Chair, prega-lhe um valente par de estalos/ uma canelada certeira/ um murro no estômago/ uma joelhada no baixo ventre.

    Em legítima defesa, obviamente :)
    Lá estaremos, tod@s, para corroborá-la :D

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