Da vida escolhia sempre o que era palpável, caminhos seguros, corrimões onde se agarrar. Ia sempre direito ao alvo. Trilhava sempre caminhos que passassem longe da ribanceira imaginária de onde alguns - os cabeças-de-vento - se lançavam com a ilusão de aprenderem a voar na vertigem da descida. Preferia sempre ancorar em terra firme. As nuvens não foram feitas para se andar sobre elas. Ria-se dos poetas repentinos, desconfiava dos boémios, dos noctívagos, dos apaixonados. Propunha-se sempre, e que ninguém duvidasse que o conseguisse, a descobrir os truques do mágico: como saiu o coelho da cartola ou a artimanha do ilusionista ao serrar ao meio a voluptuosa assistente. Nunca fraquejava. Só que um dia as picadas do ciume, da mesquinhez e da vingança estrangularam-lhe o gasganete, pagou caro o desprezo pela ficção, viu-se obrigado a fantasiar e não sabia. Só lhe ocorriam cenas de péssima qualidade dramática. Deixou de se bastar a si próprio. Está agarrado ao arbusto no meio do precipício.
Finou-se.
ResponderEliminarBoa noite, Impontual.
Ou para lá caminha.
EliminarBoa noite, Teresa.
Espero, não desejando muito mal a ninguém, que o ramo do arbusto se parta.
ResponderEliminarRápido :)
Os arbustos das encostas são muito resistentes.
Eliminar'de onde alguns - os cabeças-de-vento - se lançavam com a ilusão de aprenderem a voar na vertigem da descida.' ─ isto parece tão eu. Mas ainda não desisti! Os sonhadores não morrem. :)
ResponderEliminarAlaska, quer que a leve a casa?
EliminarOlhe, Sr. Impontual, digo-lhe já que a sua companhia eu aceitava só para ouvi-lo a declamar os poemas de Bukowski. :)
EliminarTem tudo para acabar mal. Nos filmes pelo menos os arbustos partem-se sempre :))
ResponderEliminarEntão tem tudo. Isto è um autêntico filme. De mau argumento, claro. .)
EliminarTalvez aprenda, quem sabe? Nunca é tarde para arrepiar caminho. Quiçá alguém o ajude a salvar-se da queda.
ResponderEliminar(Eu sei. Sou uma optimista.)