Vem posar de dois em dois meses. Sempre no inicio do mês, sempre no inicio do dia, sempre a uma terça-feira. Estamos em Dezembro. Sorri, o olhar é agudo, gelado, isso mesmo um olhar gelado, como se, lá dentro, no interior do olhar, houvesse um registo de uma memória coberta de névoa que um vento glaciar faz emergir: um espelho com a devolução de precárias e lacónicas imagens. Nunca um silêncio, porque aquela tropelia de lembranças arrasta-se com gritos lancinantes, suplicas veementes, resignações, uma teia laboriosamente tecida, um meandro, um labirinto.
Pela primeira vez reparo que a sua beleza é assimétrica, que cada metade do seu rosto terá de ter uma atenção separada. O seu perfil visto de lados opostos é diferente, como as deusas tradicionais de duas faces.
Abro subitamente o caderno de esboços, numa folha em branco, tentando não olhar para os desenhos anteriores, e com o lápis de carvão desenho as suas formas. Os contornos são conhecidos e esperados. Posso ser honesto com ela, dentro daqueles contornos encontro novos sinais que o seu espírito mandou imprimir na pele - rugas, vincos e laivos de amargura. Registo todos eles. E, curioso, a sensação que me invade, à medida que a minha mão segue o seu instinto, é de indulgência. Indulgência plenária.
Preciso preparar uma mistura equilibrada entre o vermelho e o azul. Púrpura. Não sei se um magenta ou um anil. Se mais vermelho, se mais azul.
Pela primeira vez reparo que a sua beleza é assimétrica, que cada metade do seu rosto terá de ter uma atenção separada. O seu perfil visto de lados opostos é diferente, como as deusas tradicionais de duas faces.
Abro subitamente o caderno de esboços, numa folha em branco, tentando não olhar para os desenhos anteriores, e com o lápis de carvão desenho as suas formas. Os contornos são conhecidos e esperados. Posso ser honesto com ela, dentro daqueles contornos encontro novos sinais que o seu espírito mandou imprimir na pele - rugas, vincos e laivos de amargura. Registo todos eles. E, curioso, a sensação que me invade, à medida que a minha mão segue o seu instinto, é de indulgência. Indulgência plenária.
Preciso preparar uma mistura equilibrada entre o vermelho e o azul. Púrpura. Não sei se um magenta ou um anil. Se mais vermelho, se mais azul.
Como isto está bonito, Impontual.
ResponderEliminarBom dia, Dezembro.
Haverá um deus da indulgência, Teresa?
Eliminardeus queira.
EliminarQue seja um mês colorido e recheado de coisas boas para todo o mundo! Cada um de nós pode colorir conforme o nosso coração mandar!
ResponderEliminar=)
Bjinhos com carinho...
Por aqui com, Vivacidades e deslumbres
Luz não há-de faltar.
EliminarObrigado, Daniela.
Tristemente belo e como tal, arrancou-me um sorriso resignado.
ResponderEliminarBom dia, Sô Impontual
São curtos os limites que separam a tristeza da resignação.
EliminarBoa noite, Noname. Como está?
Já estive pior, mas ficarei melhor quando chegar aqui e me deparar com uma pintura de Agosto :)
EliminarBoa noite, espero esteja bem, Sô Impontual
Pintar Agosto!? Não sei, não. Por essa altura estará tudo tão maduro. Não sei, não.
EliminarBem, Obrigado.
Ah, pode até ser, mas são cores vibrantes, vivas, quentes.
Eliminar:)
Palpita-me que irá acertar e ela ficará encantada.
ResponderEliminarConheci a alegria do mundo
Ao adornar minha sala
com a camélia que floresceu
No Jardim
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Mokiti Okada
Bom dia, Sr. Impontual
;)
Nem com palavras é fácil pintar as fantasias do assombro que é a vida.
EliminarNão acha, Maria?
azul, com laivos de vermelho onde passarás um dedo, para que se esbata.
ResponderEliminar______________
(obviamente, não sei :)
Bem sabemos que é inevitável o esbatimento da cor. Não sejamos pintores insanos :)
EliminarAcabei de ouvir uma conversa do Nadir Afonso na RTP Memória e admiro a forma como coloca a sua 'teoria' sobre a perfeição da arte que não será subjectiva mas sim objectiva e matemática no entanto continuo a achar as imperfeições tão bonitas que me atrevo a discordar um bocadinho dele apesar de adorar a sua obra.
ResponderEliminarQualquer dia vou pedir para conhecer essa arte que se perpetua no tempo, Impontual.
Nisso sou mais "nietzschiano" - que a arte nos livre da objectiva crueza do quotidiano.
EliminarNão me peça uma coisa dessas, Tétisq. Não quer antes um chocolatinho preto com especiarias do Chile?
Do chile? Que maravilha.
EliminarSe quiser experimentar antes da oferta, vá a uma mercearia perto de si ( no Supercor - Corte Inglês tem de certeza) e procure Pacari Preto. Se preferir tem de frutas andinas, especiarias do Chile ou sal de Cuzco.
EliminarDizem que na bimby o resultado é mirabolante, dizem[risos]
ResponderEliminarQuem e a bimby, Perséfone? .)
Eliminarcomo eu gostava de ver esse esboço.
ResponderEliminarLaura! Não quer antes um Ferrero Rocher? :)
EliminarIsto de responder a quem lhe pede para ver a arte com doces não me parece nada bem. A Lena D'água trocava doces por coisas bem mais acertadas do que desconversar...
EliminarNão gosta de chocolate, Tétisq?
EliminarGosto mas também gosto de beijos salgados, funcionam melhor quando se quer que a boca alheia cale certo assunto.
Eliminar
ResponderEliminarImpontual, creio que ametista também iria bem. Por várias razões.