O Senhor Impontual é um fugitivo. Desde sempre que o é. O Senhor Impontual sabe desenhar casas, sabe toldar-lhe as fachadas e o interior. Sabe desenhar jardins. Mas o que o Senhor Impontual gostava, mesmo, era de saber desenhar rostos. Se um dia, no grande incêndio, os livros fossem queimados, o Senhor Impontual está seguro de que os rostos passariam a ser a biblioteca dos homens, as rugas as suas linhas, o olhar as suas histórias. Mas desenhar rostos é muito dificil. Em cada rosto há algo de inatingivel. O lápis desespera e continua à procura. Por vezes sente-se que se roça nele e ficamos com a mão a escaldar. Outras vezes pressente-se que desde que se espere de um modo suficientemente observante, chegará o momento em que se revelará por um único risco milagroso, como quando se espera na noite pelo alvoroço, pelo momento do nascer do sol, quando as névoas se levantam, as sombras se dispersam e o interior da paisagem se revela. Mas não. Com muita pena do Senhor Impontual.
Por mim e de forma algo egoísta, prefiro que os livros não ardam senão nas almas de quem os lê. Se o senhor impontual não desenha rostos é porque não nasceu para eles, já que desenha outras coisas. Não se pode ter tudo, até na arte do desenho.
ResponderEliminarEntrementes, pode ir fugindo. Sempre dá cumprimento à sua sina.
Não fugindo do fim de semana, pois que o passe muito bem.
Gostei tanto daexpressão "que os livros ardam na alma se quem os lê"
EliminarObrigado, bea.
Bom fim-de-semana.
Os rostos acontecem nas palavras
ResponderEliminarSim. Mas os rostos são muito mais indecentes.
EliminarObrigado por ter vindo meu Caro.
E não somos todos?
ResponderEliminarTalvez sejamos. Talvez fugamos em busca. Sao movimentos tão semelhantes, não acha flor?
EliminarQue prazer vê-la! Obrigado por ter vindo.
:)
Eliminar"É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece que vivemos."