sexta-feira, 23 de abril de 2021

Pintar Abril

Estamos no fim de Abril. Há uns meses largos que não vinha posar. Entrou com a elegância de sempre. Sentou-se no canapé de palhinha com as costas direitas, entrelaçou os dedos das mãos e deixou-as cair sobre o regaço. Fez uma pausa. Ignorou-me com o olhar. Fixou-se absorta no vazio.

A tristeza leva tempo a aparecer num rosto, existe um período de incubação em que paira como um vapor dentro de uma pessoa mas sem deixar rasto; e passados uns meses, uns anos, apodera-se dela lentamente, uma ruga no canto da boca, uma sombra à volta dos olhos, um pescoço menos esguio, um olhar quiesciente.

Um lápis imoto. Uma tela em branco com um fundo flavo.

4 comentários:

  1. Tenho de ir ver duas palavras ao dicionário, mas o texto vale bem a pesquisa.
    BFS, senhor Impontual.

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  2. Só faltava uma vírgula
    disse Eugénio de Andrade

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  3. Ó Senhor Impontual, esse modelo que lhe apareceu atelier dentro, para se sentar em pose na cadeira de palhinha, e de olhar absorto e triste, olheirenta, se quedou imota, olhar quiesciente - que me parece ir dar ao mesmo - seria por acaso a Dona Revolução dos Cravos? Se for, de tão bem vestida, nem a reconheci.

    Bom fim-de-semana, Impontual.

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  4. Não tarda nada e Maio vai pintar uma tela florida :)

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