quinta-feira, 5 de maio de 2016

Catatónicos.

Carnívoros, abrem os maxilares e atiram-se. São presa e predador num só corpo. Devoram-se, objectos dos seus desejos. Peles que se roçam, centelhas de braços, membros ávidos de carne, pêlos eriçados, um rouco resfolegar a cuspir na orelha um do outro palavras de fogo. Os corpos abrem-se, oferecem-se. Lábios sedentos pousam sobre bocas incandescentes. Lançam desafios. Todos os golpes são permitidos. Mergulham orgulhosamente. Valorosos. Uivam, contorcem-se, entregam-se, desenham furiosos movimentos circundantes. Explodem. Depois, se a alma se entreabrir e deixar penetrar a intimidade, o medo perfila-se, retundidos, cerram-se.

7 comentários:

  1. O medo, sempre ele.

    A cobardia, por vezes, é maior que o amor.

    Abraço, Impontual. :)

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  2. É mais fácil entregar o corpo... do que a alma!

    Beijinho
    (^^)

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  3. Estes não são primos direitos dos girassóis maus?

    Boa tarde, Impontual!

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  4. Corpo vs alma. Tão próximos e tão distantes por vezes :)

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  5. Meu caro amigo, Impontual. Prefiro que o medo trave a entrega de uma alma a outra alma, já que os corpos se entendem na sua própria linguagem universal, que entregas fraudulentas em forjas múltiplas, a que os cobardes sistematicamente recorrem. Entre o medo da entrega, que eu acho mais que legítimo, e uma mentira escabrosa, venha o medo, aí é certo que a brancura do algodão não engana.
    Desculpa-me a azia, mas custa-me ver amigas, vítimas desses parasitas.

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  6. Como viver a plenitude sem experimentar todas as dimensões de um encontro? Não compreendo o "se" a alma se entreabrir e deixar? O que faziam se não estivessem abertos? O medo sempre nos abandona ao meio...

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