De copo na mão, escondido atrás da cortina com a barba por fazer, supõe-se sempre o pior. Entra-se num inferno do qual não se poderá sair sem arranhões. O wiskey que sabe a chuva. O filme continua a rodar: os amantes bebem o molho proibido, amam-se sobre a carpete, sob o chuveiro, no carro, três quarteirões antes de chegar a casa. Fecha-se a cortina. Finge-se adormecido. À dor da consciência soma-se a mágoa incontrolável de não ter imaginação. Tempo ao tempo, é o que lhe sobra. Em cima da cama uma maçã: "atentamente, a cobra".
Wilde tinha uma receita para nos livrarmos da tentação, mas quem sabe mesmo do assunto de maçãs e cobras é a Eva. :)
ResponderEliminarBoa tentação, Impontual
É estranha esta tendência de querermos transformar (e confundir) desejos em tentações! Desígnios. :)
EliminarO desejo é sempre uma tentação, só deixa de ser tentação quando deixa de ser desejo. Talvez a estranheza seja classificar sempre a tentação como um mau desígnio. :)
EliminarNão acredito que a própria concupiscência seja um mau desígnio. O medo sim é um vulto. :)
EliminarA autoconsciência é um dos marcos mais terríveis da personalidade. Essa coisa tenebrosa de se olhar para a nossa vida, de fora, como quem vê um filme de final previsível.
EliminarEntendo, Cuca. Mas, terrível... terrível mesmo é a ausência de emoções. Ou, vá lá, a não identificação das mesmas.
EliminarA ausência de emoções só é má para os outros. A autoconsciência é um tormento do próprio. :)
EliminarEste pecado mora mesmo por aqui. Adorei o texto.
ResponderEliminarNão se preocupe Olivia. O pecado é uma coisa muito volátil.
EliminarObrigado por ter vindo.