segunda-feira, 24 de julho de 2017

Carver

Vem e conta-me um conto curto, vem e recita-me poesia, vem e diz-me que, como eu, tens medo. Medo de ter medo.


Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir à noite.
Medo que o passado desperte.
Medo que o presente alce voo.
Medo de não amar e medo de não amar o suficiente.
Medo que esse dia termine com uma nota infeliz.

Ou então, ajuda-me a contar as ondas. Uma a uma.

37 comentários:

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    1. Posso, então, contar consigo para contarmos as ondas. Uma a uma?

      (claro que lhe cederei a minha cadeira, como não podia deixar de ser)

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  2. claro que sim, mas dispenso a cadeira. muitos medos desaparecem quando nos sentamos na areia.

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    1. Escrevamos então os medo na areia.
      Espero-a com uma certa ansiedade.

      Até lá, um abraço.

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    2. Porque - "De que falamos quando falamos de amor" - foi um pensamento de capa dura que me acompanhou por estes dias de mar ao fundo.

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    3. Somos apenas grosseiros principiantes no amor, segundo Carver através da personagem Herb.

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    4. grosseiros principiantes é uma boa imagem. seria preciso definir o amor, talvez.

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    5. Pois tenho por breve definição que o amor não é nenhum milagre, mas um facto absolutamente simples que explica, entre outros prodígios, os obscuros esplendores.

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    6. Isso é a infância, Impontual

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    7. Aproveito Carver para a contrariar, se me permite claro está.

      "Nunca digas a ninguém o que queres ser quando fores grande."

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  3. Respostas
    1. Naturalmente

      Un claro en las nubes.
      El macizo perfil de las montañas azules
      que recortan el horizonte.
      El amarillo apagado de los rastrojos.
      El río muy negro.
      ¿Qué estoy haciendo en este lugar,
      solo y cargado de culpas?

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  4. Tenho todos esses medos mas não sei se passam a contar as ondas.
    ~CC~

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    1. Os medos, possivelmente, são como as ondas. Vão, voltam, enrolam-se.

      Boa noite, CC

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  5. Medo de ver a polícia estacionar à minha porta.
    Medo de dormir à noite.
    Medo de não dormir.
    Medo de que o passado desperte.
    Medo de que o presente alce voo.
    Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
    Medo de tempestades eléctricas.
    Medo da empregada que tem uma pinta no queixo!
    Medo de cães que supostamente não mordem.
    Medo da ansiedade!
    Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
    Medo de ficar sem dinheiro.
    Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
    Medo de perfis psicológicos.
    Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
    Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
    Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
    Medo de ter que morar com a minha mãe em sua velhice, e na minha.
    Medo da confusão.
    Medo de que este dia termine com uma nota infeliz.
    Medo de acordar e ver que tu partiste.
    Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
    Medo de que o que amo se torne letal para aqueles que amo.
    Medo da morte.
    Medo de viver demais.
    Medo da morte.

    Já disse isso.

    Vê, Impontual?
    Também tenho muitos medos.

    Quer juntar os seus aos meus?
    Quem sabe eles se esfumem,
    ou se desfaçam por entre as ondas...

    Quer um abraço, Impontual?
    Eu quero...

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  6. ...prefiro não pensar neles porque sei que se vão manifestando ao longo da caminhada, mas sim, tenho medo principalmente de mim, ás vezes...
    Beijo com sabor a maresia ;)

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    1. Percebo. A nossa má sombra, por vezes, é assustadora.

      Obrigado

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  7. do silêncio. pode levar-me a casa, Impontual?

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    1. Com certeza. Deixa-los-ei em casa e aguardarei que a porta se bata.

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  8. tenho para mim que o meu amigo está, digamos, "em grande", com medos ou sem.

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    1. É isso, meu caro. Assusta-me a grandiosidade desta brisa mansa que me arrefece as ventas.

      Abraço.

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  9. Tenho medo de me estilhaçar contra a inquietação das horas


    Al Berto

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    1. Como diz Eugénio:
      "Haverá outro verão, outro mar..."

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  10. Impontual, já digo eu que o medo é um cão danado. Mas admito que esse animal, que se diz ser o melhor amigo do homem preza sempre a integridade física do seu dono. A dedução lógica diz-me então que o medo é um estado de alerta que nos mantém afastados do fatídico destino que reside na morada eterna.
    Já o amor, esse estado que todos desejam, (mesmo os que não o admitem) está presente em todas as coisas e em todo o lado. Acontece que somos beijador por Ele, quando nos vemos na travessia por cima do fio da navalha, e o abismo está mesmo ali à disposição.
    Ninguém se atreve ao abismo, o medo continua a ser-nos um cão danado.
    Gostei da fotografia. Aproveito para lhe desejar a continuação de bom descanso :)

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Medo de não ver o mar e o horizonte que dali se espreita.

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  14. Acho que tenho em mim todos os medos do mundo... Mas ficar a contar as ondas é uma ideia que me agrada. :)

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  15. custa-nos perceber que a sorte está no erro. Temos medo de errar mesmo que a decisão seja ficar a ver o mar, só.

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  16. Durante anos tive apenas medo de Palhaços. Eram os únicos que me provocavam um pavor imenso. Depois de ter sido Pai, ganhei um novo medo, o de não conseguir ver o meu filho crescer. Tenho um novo medo, não o da morte, essa não me assusta (ainda), aflige-me imenso a Loucura. Tenho tanto medo de enlouquecer.

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