terça-feira, 23 de julho de 2019

Cuba Libre

Tinha o rosto carregado de estuque, muito mal pintado e muito pintado. Os lábios engelhados e a boca murcha, circunflexa. Nas comissuras atulhavam-se camadas sobrepostas de base. Cabelo preto, farto, armado, sobrancelhas desenhadas dificultosamente a lápis. Os lóbulos das orelhas pendentes; os orifícios tornaram-se, com o girar dos anos, em fendas enormes. As mãos pergaminhos veiudos; documentos antiquíssimos. Mas existia, embora submerso, o toque de uma beleza remota, de uma harmonia moribunda, no corpo, no porte, nos traços de mulher que exerce a profissão de prostituta desde que se conhece. Quis que eu lhe oferecesse uma Cuba Libre. Senti uma certa melancolia.

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