segunda-feira, 29 de julho de 2019

Terminal

Chegou no comboio das 13:38. Eram apenas meia-dúzia de pessoas na sua carruagem. Não foi incomodado durante a viagem. Não leu nenhum livro nem jornal, limitou-se a encostar a testa de lado no vidro húmido, viu a paisagem desfilar sem lhe prestar grande atenção e os leves pingos de chuva a baterem contra o reflexo da sua cara. O matraquear metálico das rodas ao longo dos carris não o perturbou; passado pouco tempo deixou mesmo de o ouvir. Desceu na estação terminal. Sabia que não iria mais longe, que tinha chegado, que era o fim da viagem. Olhou o relógio. O comboio não se tinha atrasado. Não chegou adiantado. Atravessou a gare sem se cruzar com ninguém. Ninguém o viera esperar. Levantou o colarinho, acendeu um cigarro e avançou em direcção à rua. Não tinha nenhuma mala com ele. A morrinha depositava pequenas gotículas nos seus cabelos grisalhos, o vento ligeiro soerguia por momentos a orla da sua gabardina fluída. O mundo resumia-se a ele. Novamente. Nunca foi perfeito, nunca andou direito na linha que Deus fez.

Obrigado, meu Caro. Pela música, pela opinião independente, pela carolice.

5 comentários:

  1. Eu é que agradeço, Pela colaboração, pelas palavras que sempre fomos trocando, e pelo respeito que sempre senti e que espero ter retribuído à altura.

    Voltarei aqui, a este post, quando a altura chegar :)

    Fortíssimo abraço

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  2. Porque ele merece, ter seguidores assim.

    Creio, não mentir, se disser que esperaremos ambos, pelo chegar da altura que ele fala :)


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  3. Belo texto.. parece um final de um filme noir!!!!
    Onde o ator volta para usa desesperança!

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  4. Entendi como um momento de morte. A solidão que ele me passou me fez lembrar a nossa própria morte, o momento mais solitário de nossas vidas.

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  5. Voltei!

    https://filhosdodesespero.blogspot.com/2019/08/a-linha-que-deus-fez.html

    Fortíssimo abraço :)

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