quinta-feira, 18 de julho de 2019

Ressalga

Ao abrir a janela pela manhã, espalhou-se por toda a casa a epidemia do odor intenso à maresia. Depois, à tarde, com a chegada do sol o ar foi ficando um pouco mais limpo. Ao cair da noite, o aroma salgado foi-se introduzindo de novo em todos os interstícios da casa, encheu a cozinha, corredores, alcovas e armários, penetrou na intimidade das arcas e baús, impregnou a roupa e as cortinas, ficou agarrado às paredes e também penetrou na alma das pessoas através dos sete ou oito orifícios que o corpo tem, até se apoderar por completo da sua vontade. E a sua vontade, já se sabe, é o amor. Embora, por vezes, o hipotálamo não dê a ordem em tempo útil.

3 comentários:

  1. Hoje, Senhor Impontual, sinto vontade de lhe oferecer um poema.
    Não sei quem o escreveu nem compôs, mas sei que o canta a Adriana:

    "O meu amor me deixou
    Levou minha identidade
    Não sei mais bem onde estou
    Nem onde a realidade

    Ah, se eu fosse marinheiro
    Era eu quem tinha partido
    Mas meu coração ligeiro
    Não se teria partido

    Ou se partisse colava
    Com cola de maresia
    Eu amava e desamava
    Sem peso e com poesia

    Ah, se eu fosse marinheiro
    Seria doce meu lar
    Não só o Rio de Janeiro
    A imensidão e o mar

    Leste oeste norte e sul
    Onde um homem se situa
    Quando o sol sobre o azul
    Ou quando no mar a lua

    Não buscaria conforto
    Nem juntaria dinheiro
    Um amor em cada porto
    Ah, se eu fosse marinheiro."

    Boa noite com cheiro a maresia.

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  2. Muito obrigada, pela informação, PDR.

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