Teima em não permitir que as vagas do interior aflorem à superfície. É mais civilizado afoga-las, embora quem aprende a reprimir-se encontre uma recompensa imediata, mas não acabará por reprimir só o supérfluo. A invulnerabilidade não existe, mas sim a sua ilusão, e não há maior ilusão de invulnerabilidade do que a que sente quem é capaz de se convencer que a catástrofe não o atinge. O inconveniente, é que tanto desprendimento torna-se inalcançável e geralmente a repressão, longe de talhar uma invulnerabilidade real, não representa mais do que uma defesa muito parecida à da terra queimada, a táctica de quem não tem outra forma de se defender do que ceder o seu território com a pretensão de que o inimigo se sacie e não alcance o centro onde se encontra. Quem assim actua, não é invulnerável. É tão vulnerável que se desprende do que lhe pertence, e no final o perigo não se detém e chega às portas da cidade, carecerá de exércitos e barreiras para lhe fazer frente. Reduz o campo da sua vulnerabilidade, mas não a elimina. Prescinde de quase tudo, inclusive do que não devia, e no final o que fica por defender é tão pouco que se reduz ao seu próprio medo.
Suponho que não me levará tão a mal como isso se no fim de contas, espontaneamente, lhe perguntar: Quem és tu?
Suponho que não me levará tão a mal como isso se no fim de contas, espontaneamente, lhe perguntar: Quem és tu?
Fez-me lembrar o filme As Pontes de Madison
ResponderEliminarNão, Maria.
Eliminar“This kind of certainty comes but just once in a lifetime”.
(As Pontes de Madison County é um filme maravilhoso. Aquilo não foi representar, aquilo foi despir e voltar a vestir a pele.)
concordo absolutamente, Impontual
Eliminarhttps://gatoaurelio.blogspot.com/2020/01/quatro-dias.html
:-)
Precisamente (não, não me refiro ao filme, que não vi), "as vagas do interior", é que, sem elas, individualmente, nada!
ResponderEliminarEu sou Alexandra, filha de Maria do Carmo e de António, educada com excesso de rigidez mas, paradoxalmente, com um cuidado exímio, por uma ex-professora e um militar da marinha de guerra, ambos tendo 'descuidado' o facto enorme (o cuidado deles foi maior :) de o mundo ter concorrido para a pessoa na qual me tornei :D
Prazer em conhece-la em franco convívio com as vulnerabilidades que o mundo impõe. :)
EliminarPrenúncio de uma esquizofrenia?
ResponderEliminarFragilidades e vulnerabilidades do âmago ao som de blues.
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