É estranho, como o carácter de um espaço publico se modifica quando está vazio, o campanário abandonado, a ópera fechada, a esplanada deserta. No cinema isto é muitas vezes utilizado como pano de fundo de cenas que pretendem assustar ou manipular o espectador. O mesmo acontece com este local onde me encontro agora: os visitantes como eu reduziram-se a apenas alguns, a praça assumiu contornos bastante ominosos. Talvez isso tenha algo a ver com o céu nublado por cima de nós, através do qual ocasionalmente se consegue antever uma pequeníssima nesga de sol, ou talvez às sombras cada vez mais escuras no emaranhado de becos que daqui partem em todas as direcções, mas eu sugiro que é talvez o medo da solidão aquilo que mais os inquieta, o facto de estarem sós, apesar de se encontrarem no coração da cidade.