segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Estólidos

"De que te queixas, alma abandonada? Por que razão esse voo agitado em torno da casa da vida? Porque não olhas os longes que te pertencem em vez de lutar contra o que é alheio? Mais vale o pombo vivo no telhado que o pardal semi-morto que, na mão, se debate, crispado de terror.

__Franz Kafka, Antologia de páginas intimas.

Graciela Iturbide

Nem as aves nem os animais são fieis, nem correm o risco de ouvir reprimendas ou sofrerem sanções quando dormem com outros. O sol, a lua e as estrelas projectam a sua luz onde desejam, os navios não são aparelhos para permanecerem nos portos, nem as casas construídas para permanecerem trancadas. As metáforas sucedem-se em cadeia, tocando as suas buzinas como veículos todo-o-terreno num engarrafamento do centro da cidade. Um homem a queixar-se das limitações da fidelidade é uma figura tão inepta!
Quem diz um homem diz uma mulher.

15 comentários:

  1. a fidelidade tem que ser voluntária, senão não é fidelidade, é imposição.
    não acha, Impontual?

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    1. E sendo imposição entra-se no jogo da propriedade e... sendo propriedade entra-se no jogo dos perdedores e... sendo um perdedor fica-se ali em torno da casa da vida.

      Como vai?

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    2. exactamente. por isso é que só gosto de voluntários.
      neste momento fico, não vou.

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  2. O que é ser fiel? Não dormir com outros? Amar apenas um e ninguém mais? Não pensar em mais ninguém que não aquele?

    Boa tarde, Impontual :)

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    1. ... é saber que o "vermelho" não é palavra una, mas que pode ser também um numero que nos permite descrever todo o espectro de cores que vai desde o rosa chã ao azul celeste, passando pelo preto, naturalmente.

      (Maria, não faça perguntas destas, por favor.)

      Abraço

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  3. Olhe que sim, há animais fiéis. Pense nas cegonhas, por exemplo. :)

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    1. luisa, as cegonhas são animais graciosos.
      Já os pombos - não há nada mais fiel -, mas são cinzentos.

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  4. Não trair a confiança é algo de muitíssimo importante para mim. Tento cumprir ao máximo, qualquer que seja o tipo de relação existente. Reajo muito mal quando me traem, seja de que forma for. Sei que dali para a frente as coisas não são iguais, até porque não quero.
    (Atenção: trair no sentido que falo, implica ter consciência que se está a fazê-lo, embora possa não se ter percepção do impacto.)
    Boa tarde, Impontual. Com um sol tímido por aqui.

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    1. «(Atenção: trair no sentido que falo, implica ter consciência que se está a fazê-lo, embora possa não se ter percepção do impacto.)»

      Isabel, pior do que ser infiel é sê-lo sem o querer.
      Por aqui o sol também não é de confiança. Até já se misturou com a chuva. Imagine-se.

      Abraço.

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    2. Impontual, quando não se tem consciência de se estar a ultrapassar os limites que regem a confiança, não se trata de traição. Daí que não se pode ser infiel sem querer.

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    3. Isabel, desculpe a insistência, mas não ter consciência dos limites da confiança é, quanto a mim, pior que o próprio acto de as ultrapassar.

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    4. Sim, em termos de valoração pior/melhor, também considero ser pior o não ter essa consciência. Contudo, creio que nessas circunstâncias não se designa de traição.

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  5. Creio que o que todos queremos é uma coisa diferente da fidelidade. É a entrega.

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  6. (De nada me serve a fidelidade de quem não se entrega livremente e creio até poder dispensar a fidelidade a quem se entrega)

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    1. Absolutamente, Cuca.
      Não perdendo de vista que, como diz Vinicius, "a felicidade é maleável, é macia, é elástica..."

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