Era uma vez um país, numa época em que a maior parte das pessoas acreditava num qualquer género de universo em três camadas: havia o mundo sobrenatural, o natural e um qualquer lugar povoado por seres humanos. Uma espécie de vácuo nevoento e doloroso onde o Povoléu era a classe dominante. O seu nome do meio era Pobreza e o seu apelido Ignorância.Consequentemente, a sua única hipótese de felicidade estava na escravidão. Escravizem-nos, se for preciso, gritava silenciosamente o Povoléu, mas dêem-nos de comer. E assim, durante quarenta e cinco anos, foi sobrevivendo, matando a fome e passeando-se em ruas mal iluminadas onde ninguém o pudesse escutar - ouvia-se contar o que acontecia aos que erguiam a voz por uma outra liberdade -, mas o Povoléu nunca ficou muito perturbado com esse género de purga. Até que um dia deu-se a revolução de Abril e o Povoléu passou a viver livre mas acossado pela pressão social do sucesso, do poder, da riqueza, da família, da felicidade urgente, da expectativa... e de um mal-estar que lhe percorre o corpo provocando taquicardia, sudorese, respiração acelerada, boca seca, peso no peito, suor nas mãos, sensação de que o coração lhe vai sair pela boca...refém das suas próprias liberdades e sem saber como fazer a contra-revolução.
Como o Impontual, nunca chega a tempo nem pertence à tal classe dominante desse país de seu nome próprio Portugal Pobreza, apelido Ignorância, quando veio ao mundo já os quarenta e oito anos ( e não quarenta e cinco) de escravidão sim, fome não, tinham passado e o povoléu gritava de alegria.
ResponderEliminarAgora que já cá está e é crescidinho, também deve sentir-se acometido pelos sinais de brotoeja generalizada e cujos sintomas são: 'mal-estar que percorre o corpo provocando taquicardia, sudorese, respiração acelerada, boca seca, peso no peito, suor nas mãos, sensação de que o coração lhe vai sair pela boca"...
Que tal fornecer estratégias avançadas ao povoléu, coitado, que não pensa e isso de capitães já foi chão que deu uvas, de como de deve organizar uma contra-revolução que nos devolva um belo sorriso ao rosto cansado? Hã??
*_*
Maria Antonieta,
EliminarComo deve calcular não sou dono de formulas nem «estratégias avançadas» capazes de amenizar inquietações. Por ventura tão pouco serei capaz de levar a cabo a minha própria contra-revolução. Mas tenho um principio que é tentar sobreviver à explosão dos sentimentos agudos.
Veja se gosta desta musica:
https://www.youtube.com/watch?v=J5SvR0ThrZs
E que a musica de Abril continue a perpetuar a liberdade.
Um abraço e um cravo, se me permitir, claro está.
Caro Impontual.
EliminarAceito o abraço, que retribuo, o cravo vermelho simbólico e, se houver algumas margaridas também as aceito de boníssimo grado, Impontual. Sabe que são as minhas preferidas? Brancas, amarelas... Nascem espontâneas e são essas as que mais me alegram o olhar.
A música; pois a música tocou no meu ponto sensível. Adoro esta bela canção e há tanto, tanto tempo não ouvia o José Mário Branco e a sua - e minha- Inquietação.
Muito obrigada, Impontual.
De futuro tentarei que os 'sentimentos agudos', que em mim costumam cavalgar à solta, não tomem o freio nos dentes. :)
Um abraço.
refém das suas próprias liberdades e sem saber como fazer a contra-revolução.
ResponderEliminarconcordo, em absoluto.
Flor, aceita um cravo? Ou prefere um campo de margaridas?
Eliminaradoro flores, aceito qualquer uma delas, de sorriso no cara :) mas confesso que prefiro flores plantadas aos ramos tradicionais. a beleza está nas raízes.
EliminarEu vou pelas margaridas, brancas de preferência, tendo liberdade de escolha, claro... :)
ResponderEliminarA liberdade cabe de facto em todas as bocas mas penso que em poucos espíritos. Não há liberdade sem verdade, e o mundo de hoje parece-me que de um modo transversal assenta em meias verdades ou meias mentiras, manipuladas e servidas a (des)gosto é descridas as formas ao alcance da cada um... Liberdade é talvez um conceito que raia a utopia, mas isto sou só eu a pensar alto...
Boa noite, Impontual
*servidas de todas as formas
Eliminar(era mais isto)
O sentido filosófico do termo é tramado, Olvido.
EliminarUma Boa noite, enfeitada de margaridas. :)
O sentido prático também... Muito mais do que às vezes à primeira vista parece.
Eliminar:)