segunda-feira, 15 de maio de 2017

Carmen

A sua dor não pára de aumentar ainda mais por se sentir tão sozinha num arquipélago lento onde tudo incita a partilhar o inefável, a respirar em conjunto. Como pode gritar o seu desgosto no meio de uma tal beleza, de uma tal abundância de flores? As Hortênsias, as Camélias, os Patalugos onde tudo é alegria, as cores saturadas das lagoas, todas aquelas Azáleas lavadas pelo sol falam de identidades, de âmagos recuperados, de horizontes disponíveis, enquanto ela sofre daquela solidão que asfixia os incompreendidos.  Perdida no paraíso da relutância, o matraquear surdo do absoluto chama-a a um encontro não estagnado do amor tecido com verdades perigosas, cheio de risos inacessíveis, a um infinito que desaparecera, a um sentimento desencorajado, ao escândalo da mediocridade.

12 comentários:

  1. Carmen imortaliza o fim do amor medíocre e o homicídio do riso.

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    1. Embora muito contrariada pelas Hortênsias.

      Como vai, Teresa?

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  2. Olá!!! Que texto lindo, transmite um pouco de tristeza, apesar de retratar belos aspectos da natureza.
    Tenha uma ótima semana!!

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    1. Conhece aquela de Vinicius: "A felicidade é como a gota
      de orvalho numa pétala de flor..." ?

      Obrigado por ter vindo.

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  3. Render-me-ia às flores, no lugar de Carmen.

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    1. Percebo. Quando o amor foge, as flores entoam cânticos.
      Ou,como dizia o poeta «inconjunto»:

      Quando vier a Primavera,
      Se eu já estiver morto,
      As flores florirão da mesma maneira
      E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

      :)

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    2. Ou uma relação com a Proder.

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  4. apeteceu-me ouvir Bizet.

    boa semana, Impontual

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    1. Quando chegar à taberna de Lillas Pastia, avise-me. Faço questão de fazer um brinde consigo.

      Obrigado.

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  5. Escandalosamente, o escândalo da mediocridade, não escandaliza ninguém. E é pena, mas sempre foi.
    Boa noite, Impontual

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    1. O escândalo da mediocridade, seja em que for, tem um custo sempre muito pesado, que é a decepção.

      Boa noite, Olvido.

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  6. É uma dor que vem de dentro, não passa com o que os olhos vêm. Mas não estarão os olhos diretamente ligados ao coração?

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