quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Noite

Deixo-me tomar pela noite. Tomar, aconchegar, estreitar. A noite não descansa, arqueja com todos os seus suspiros e oferece-me um concerto amortecido. Quem arrola tantos sons como ela? O jazz pulsa, desventra a cortina das percepções. Um saxofone soprano aparta as abas da razão a fim de proferir um grito tributado às estrelas. Abre-se uma janela, sobredose de emoções, uma vida que se questiona: como, onde, até quando? Êxtase e retracção. As interrogações condensam em si as lassidões reaparecidas ao nascer do sol. As respostas acham-se nas ruas da escuridão, matriz onde se extasiam os imaginários, pois é aí que as ficções tomam corpos e almas, no próprio instante. Elas assemelham-se ao amanhã, depois de amanhã, as avenidas, as pedras, plenas figuras do destino. Sabemos que iremos mover-nos ali e não noutro sitio, no interior de cenários efémeros, momentâneos, transitórios. Às vezes mais vale dormir.

14 comentários:

  1. Respostas
    1. As respostas encontram nas ruas da escuridão.

      ( aproveitei para rectificar a gafe de "excuridão" para escuridão)

      Bom dia. :)

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  2. Respostas
    1. Ao outro dia, no mesmo lugar, tudo é efémero e transitório.

      Bom dia, Larissa.

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  3. É de noite que tudo nos consome e o nada se agiganta...

    Bom Dia, Impontual.

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    1. …e quando isso acontece, tomamos a forma de uma gaivota dependurada do nada...

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  4. Quantas vezes durante a noite vivo outra vida bem diferente e, acordo vazia, loool . Amei


    Beijo e um tarde feliz

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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