...se fosse eu, talvez sentado naquela cadeira branca de vime, iria pegar-lhe na mão, ouvi-la suspirar, e ficar a saber que ela me queria muito. Ou no quarto dela, quando estivesse sentada à janela a admirar os relvados e os pinheirais que se estendiam até à orla do oceano, quando ela abrisse a janela da varanda de par em par para deixar entrar no quarto o ar salgado e começasse a inspirá-lo às lufadas. Era ali que ia acontecer. Num daqueles quartos, eu iria tomar o rosto dela nas minhas mãos e beijá-la em ambas as faces, depois iria sussurrar-lhe ao ouvido enquanto desapertava os botões do seu casaco, da blusa, os atilhos do corpete e de todas as desnecessárias e ridículas peças de vestuário que usavam as mulheres daquela época. Soltaria todas as esperanças que havia conservado num frasco e guardado na prateleira mais alta da minha vida. Mas aquela tarefa requeria um espírito delicado que a minha vida raramente tinha exigido. Como diria a minha avó: pode levar-se uma rosa a fazer quase tudo, até a crescer dentro de uma jarra de vidro, mas temos de o fazer com carinho, e era assim que eu teria de proceder. Ouvi-la sorrir e cortejá-la, tratá-la não como uma deusa, mas como uma mulher inteligente, demasiado esperta para se deixar levar pela lisonja. Tinha de ser cuidadoso. Teria de ir introduzindo muito lentamente os espinhos da minha vida nas espirais do seu coração. Uma mulher complexa tem de ser amada de uma forma mais elaborada.
Mas... não estou certo se seria exactamente assim. Vou mas é polir o toucadorconsola que hoje está um pouco mais fresco.
Mas... não estou certo se seria exactamente assim. Vou mas é polir o toucador
Porque não?
ResponderEliminarBom serão!
Assim a esta distância, não é fácil aferir se um coração pode estar preparado para receber os espinhos de uma outra vida. :)
EliminarPolir um toucador parece-me um bom treino para uma cruzada que se antevê de alta exigência. Perceber o sentido do veio, aprender a pacientar pela suavidade da superfície, esperar pelo momento em que a luz nela se reflectirá com perfeição -- parecem ser exercícios adequados. Não desista.
ResponderEliminarEstou convicto que será mais fácil que imaginar a cronologia de uma historia tão velha e tão improvável como a que se terá passado no Grand Hotel. Não desistirei.
EliminarBom dia: - Existem sonhos fantásticos, não existem?
ResponderEliminar.
* Amor em Asas Libertas *
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Votos de um dia feliz
Mal corre que o Sr. Impontual não nos brinde com o epilogo desta saga do Grande Hotel. Certamente será um final quente e apoteótico. Eu estou à espera. :)
ResponderEliminarComo ocupando as mãos no restauro de uma peça de mobiliário, antiquíssimo, se pode dar largas à imaginação... Vá polindo Impontual, vá polindo. Com a suavidade com que trataria a tal dama. E vá contando à gente esse divagar; devagarinho se vai longe. :)
ResponderEliminarEnquanto o espelho do toucador guardava o reflexo desse encontro...
ResponderEliminarBons restauros, caro Impontual :)