A aparência é a forma que Amélia encontra para que as outras pessoas não a vejam. Não adivinhem o seu mal-estar interior. Por isso criou para si mesma um personagem alegre, voluntário, enérgico, simpático, pimpão, sempre pronto a dar o exemplo, a dobrar-se à vontade de uns e outros a fim de afastar os raios que sente sempre prestes a brotar. O seu corpo contorce-se numa roda endiabrada, a sua boca deforma-se em sorrisos automáticos, os seus braços desenham anéis que lança em volta do pescoço daqueles cujas tempestades receia. Ignora a sua cólera, a raiva que a invade contra aqueles que se dilaceram diante de si. O tempo de um armisticio. Aprendeu a intervir como um bombeiro apressado, atirando baldes de bom humor sobre os rostos em chamas. Representa tão bem aquele personagem em perpétuo movimento, receando que se instale uma calma ameaçadora, um silêncio perturbador entre duas feras à espreita, degenerando em gritos, insultos, lágrimas, envio de projecteis e depois um bater de portas.
Amélia sabe misturar humor, folia e dor com uma extraordinária simplicidade.
A minha Amélia é aquela que Carlos Mendes canta, "Amélia gaivota, amante, poeta, rosa de café. Amélia gaiata, dos bairros da lata do cais do Sodré". Canção de que sempre gostarei e a lembrar realidade tão pouco bonita num mundo que pouco muda.
ResponderEliminarBom dia, Senhor Impontual.
A Amélia dos olhos doces...grávida de esperança.?
EliminarBom dia, Bea.
Por mim, grávida ou estéril, é sempre a mesma Amélia da canção que acho bonita e também triste. A minha Amélia não é esperançosa, só é. Mas isto não o sabe ela nem Carlos Mendes.
EliminarQue fantástico bombeiro! :-)
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