quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Escala cinza



Hoje abriu uma nesga de sol. Enquanto faço uns rabiscos em escala maior e nos ouvidos tenho os The Cure com Lullaby, reparo que o casal de pombos voltou à tangerineira. Já tinha dado conta da chegada do pombo macho. Esteve por ali durante uns dias, só, calado, mudo, cinzento. Hoje, pela aurora, chegou o outro - a femea. Penugem luzidia. Igualmente cinzento. Cabeça bem levantada: eu sou a saudade toda-poderosa, deves tremer diante de mim, dar-me tudo porque sou insaciável, um ogre, um vampiro, uma assassina em serie de felicidades confessadas e anunciadas em voz baixa
As suas cantorias ainda são vãs e inábeis. Tentam elevar-se à altura da sua catedral, mas apenas conseguem volitar uns sons guinchantes e ocos, escarrados por goelas fatigadas. O silêncio e os seus corpos cinzentos, um encostado ao outro, monogâmicos, eis o seu dominio, o seu reino encantado onde inimigo nenhum conseguirá penetrar.
Entretanto apareceu o arco-iris.

6 comentários:

  1. Felizmente a natureza prossegue sem racional.
    Eu aguardo os frutos nas árvores que com eles trazem um bando de periquitos-reis que habita aqui nas redondezas. Uma lufada de cor e som assoma-se nasce o sol.
    Também tenho um(a)? Rola que para muitas vezes na varanda do meu quarto. Mas sozinha...
    E um ninho de pardais num dos candeeiros do jardim.

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  2. tão queridinhos os monogâmicos dois em um, encostados um ao outro numa tangerineira e com arco íris em fundo. Mas se vier chuva.

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