quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Palomar

O Senhor Impontual, um homem vencido pela contemplação e que nunca gostou de páthos, que sabe que todas as honras e as palavras elogiosas com que nos cobrem não passam de palha e que o que permanece é a voz destituida de ambiguidade, esperteza ou ironia, a voz herdada dos tempos vividos. Essa é a voz autêntica. Os disfarces e os artifícios não passam, afinal, de uma roupagem provavelmente necessária para cativar o ouvido, mas não são o essencial. O essencial grava-se no corpo e não na memória. As células do corpo lembram-se melhor do que a memória que foi feita para recordar. O Senhor Impontual gosta da contemplação porque esta não o sujeita a qualquer geografia estática. Mais ainda: permite-lhe alargar os seus limites ou elevar o objecto às alturas. Sem que para tal tenha de dizer uma única palavra. 

O Senhor Impontual esta manhã rompeu o confinamento e foi olhar o mar de perto. Era um mar plúmbeo, agitado, coberto de nuvens grávidas. Tão bonito, tão azul...

10 comentários:

  1. Eu sou pela desobediência responsável:)
    Ver o mar cabe nessa minha categoria...
    ~CC~

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    1. Valha-nos essa virtude original. Eu nao disse pecado,CC. :)

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  2. Sendo-me permitida opinião, fez o senhor Impontual muito bem:).

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  3. Ai que saudade tenho eu do mar e dessa contemplação.

    Bom dia, sô Impontual

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    1. "uma mulher livre, sempre gostará do mar".
      Ja sabe que quem diz uma mulher, diz um homem. :)

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  4. Olhar o mar, o céu, as árvores, as montanhas... acho nesses momentos, nos esquecemos do vírus, da quarentena, de tudo. E surgem textos assim.
    Quanto Às honras, já ouvi dizer que as mesmas mãos que nos aplaudem, um dia podem nos atirar pedras.

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    1. Tem razão Bailune. As palavras são umas impostoras.

      Obrigado por ter vindo.

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  5. Um silêncio contemplativo apenas irrompido pela fúria das ondas, gosto!

    Boa tarde, Impontual :)

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    1. Tem razão, querida Perséfone. Umas vezes somos lago sereno outras mar revolto. Por vezws portos inseguros. :)

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