terça-feira, 22 de agosto de 2017

E eu ali tão perto


Puxou-me pelo braço para o recato do sofá da sala. Diminuiu a intensidade da luz e do telemóvel para o televisor deu inicio à projecção de alguns vídeos. Queria falar-me do seu primeiro festival de música. Senti-lhe a alma dilatar-se. Começa por mencionar o quão pequena se sentiu no meio de tanta gente. Gente boa, referiu. Depois, descreve-me detalhadamente um tempo que lhe agradou particularmente - o lazer e diversão na zona fluvial enquanto aguardava pela hora dos concertos, a pacatez da paisagem, a inquietude da espera que se afrouxava a cada mergulho nas águas escuras do rio. Recorda a emoção desse momento, reforça o estado de alma, descreve-me a qualidade da música e do ambiente rural circundante. 
-- Ouve a limpidez desta interpretação, dizia-me a cada música que atirava para o televisor. E eu a ouvir Sinatra nas introduções e Nina Simone nas notas mais altas.
-- Repara na interacção com o público e na fidelidade deste a cada nota, a cada verso. Um público convertido, salientou. E eu a ouvir Etta James em At last.
-- Repara na fragilidade e na sensibilidade desta figura imensa, dizia-me com embargo na voz. E eu a ouvir Billie Holiday a interpretar majestosamente o Summertime.
-- Para o ano se calhar vou voltar, preconizou. E eu ali tão perto. 

8 comentários:

  1. at last da etta james é uma das minhas músicas preferidas,
    e eu ali tão perto

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  2. Sem dúvida que condensa em si todas esses talentos e mais alguns, Benjamin Clementine é, para mim, um dos melhores cantautores das últimas décadas, um tesouro encontrado literalmente, no meio da rua e do nada, facto que realça atuando sempre descalço.
    Boa tarde, Impontual :))))

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