A negridão no fim do horizonte é ameaçadora, mas recomponho-me fitando o mar com o extremado carinho de quem encontrou a coisa amada. Abdico (provisóriamente?) de gestos e palavras trazidos comigo de outras paragens. Detenho-me agora a adivinhar o poder misterioso das correntes, as rugosidades da água, a sua flora talvez secular, o desenho delicado e firme das ondas, o pulsar secreto da sua vida submersa. Invento até episódios e façanhas em que sou protagonista - um autêntico lobo do mar. Como se a acumulação de vivências tivesse quebrado o selo da ausência. Sorrio com sóbria gravidade, olhos cravados no interior da imensidão do nada: a correria dos pensamentos, das imagens, das recordações. A maresia a circular nas veias.
Ola:- Elogiável prosa poética.
ResponderEliminar.
Bom fim de semana
Cuide-se
Boa semana, Rikardo.
EliminarO mar era o meu antidepressivo natural, por isso a abstinência proposta causa-me bastante apreensão. Tenho que encontrar um meio de chegar até ele e tomar um banho.
ResponderEliminar~CC~
"antidepressivo natural", que maravilha de definição, CC!
EliminarCom tamanhas palavras vislumbrei a Foz do Douro quando o rio se despoja nas águas por vezes revoltas do oceano.
ResponderEliminarImpontual, nada de mergulhos[risos]
Gostei tanto da palavara "despojos". Cai aqui tão bem, Perséfone. :)
Eliminareste texto lembra-me o poema de Al Berto, há-de flutuar uma cidade.
ResponderEliminar:) Querida flor.
EliminarSempre temos dúvidas que a felicidade nos visite. Mas há-de crescer-nos uma perola no coração. Não há-de?
e assim
ResponderEliminarquase a respirar por guelras