sexta-feira, 8 de maio de 2020

Capitão-de-mar-e-guerra

A negridão no fim do horizonte é ameaçadora, mas recomponho-me fitando o mar com o extremado carinho de quem encontrou a coisa amada. Abdico (provisóriamente?) de gestos e palavras trazidos comigo de outras paragens. Detenho-me agora a adivinhar o poder misterioso das correntes, as rugosidades da água, a sua flora talvez secular, o desenho delicado e firme das ondas, o pulsar secreto da sua vida submersa. Invento até episódios e façanhas em que sou protagonista - um autêntico lobo do mar. Como se a acumulação de vivências tivesse quebrado o selo da ausência. Sorrio com sóbria gravidade, olhos cravados no interior da imensidão do nada: a correria dos pensamentos, das imagens, das recordações. A maresia a circular nas veias.

9 comentários:

  1. Ola:- Elogiável prosa poética.
    .
    Bom fim de semana
    Cuide-se

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  2. O mar era o meu antidepressivo natural, por isso a abstinência proposta causa-me bastante apreensão. Tenho que encontrar um meio de chegar até ele e tomar um banho.
    ~CC~

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    1. "antidepressivo natural", que maravilha de definição, CC!

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  3. Com tamanhas palavras vislumbrei a Foz do Douro quando o rio se despoja nas águas por vezes revoltas do oceano.
    Impontual, nada de mergulhos[risos]

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    1. Gostei tanto da palavara "despojos". Cai aqui tão bem, Perséfone. :)

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  4. este texto lembra-me o poema de Al Berto, há-de flutuar uma cidade.

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    1. :) Querida flor.

      Sempre temos dúvidas que a felicidade nos visite. Mas há-de crescer-nos uma perola no coração. Não há-de?

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