Por muito que se respeite a pessoa, o seu passado, a sua matéria, a sua história, custa a entender o facto de alguém aceitar que não tem o direito de se deixar levar pelo prazer, de ser ela própria, tão pouco ser o prazer. O prazer é uma coisa mal vista na família, já se sabe. Perturba a ordem, a sacrossanta ordem familiar. Se toda a gente se dedicasse ao prazer, que seria do dever, do ouro, das pedras que a família juntou? O prazer é perigoso. O dever sim, é tranquilizador. Há um modo a observar em cada família, basta consulta-lo, ilustrar-se a seu respeito e seguir o sulco cavado pelos antepassados.
Mas, ó prima, à força de negar o seu direito ao prazer, acumular uma cólera feroz e tenaz, que estragou o resto da sua vida, é que não lembrava ao diabo. E aquele vinho tinto encorpado, com o potencial de envelhecimento que se lhe reconhece, não podia ser servido directamente da garrafa. Ai se o seu avô visse aquilo!