segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
Pintar Dezembro
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
Da noite em que eu dormi com a LK*
Perturbado, incerto, inquiridor não cesso de respirar, de tirar proveito de uma presença fulgurante, de um corpo que se move a meu lado, como se ali estivesse o quotidiano de ambos, caminhar juntos nos bastidores das horas perdidas antes de nos enfiarmos nos de uma cidade, debaixo de uma campânula de vidro... debaixo de uma bátega.
Obrigado*.
terça-feira, 14 de novembro de 2023
Breve apostila ao Novembro chuvoso
terça-feira, 7 de novembro de 2023
Lítio
Se vamos a venerar a memória do desaparecido, ele encontra-se mais presente e terá mais poder do que o vivo. A atenção deve ir mais para aquele que acorda no meio da noite, convencido que ainda tem por cima todas as estrelas do céu, e de repente se sente em viagem. Não há paragem que mitigue a sede. Aquele que desperta, o que procura em primeiro lugar é o inferno. E o inferno... somos nós.
terça-feira, 24 de outubro de 2023
Aline
Depois, abriu os olhos e sentiu muitas saudades de estar em Fortaleza, ao ar livre no meio da natureza, nua sobre a areia quente, sentindo o cheiro salgado do mar a envolve-la. Enquanto caminhava pelo quarto, imaginou-se a andar pelo mar tranquilo. Sentiu o peso da nudez e, ao passar à frente do espelho, viu de relance o rabo. Tinha um belo rabo. Os homens sempre lhe haviam admirado o rabo e ela, era obrigada a reconhecer, tinha muito orgulho nele.
quarta-feira, 11 de outubro de 2023
Breaking News
Hipócrates
quarta-feira, 4 de outubro de 2023
Despertador
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
Palomar
O Senhor Impontual gosta de acreditar que um dia a Terra travará de súbito naquele preciso momento e por ali ficará, estática, durante um instante mais alongado.
Ainda não foi hoje.
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
Douro
À minha volta a luz acinzentada parece consumir o próprio ar que se respira. Bastou-me olhar para as vinhas que se estendem pela encosta até à margem do rio para sentir, como se fosse um bicho faminto sob a frescura daquele ar, o cheiro acre, saboroso, das videiras banhando-se primeiro do orvalho e depois do sol manso da manhã. Nesta altura já não se percebe se são arbustos vivos, se empedernidos por décadas e décadas de orvalhos, de chuvas, de geadas e de sol. Plantas imóveis, agarradas à terra, parecem esqueletos calcinados à espera de um vento mais forte que as arranque dali.
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Questiúncula
Quão intelectual e emocionalmente transviado é preciso uma pessoa ser para ver na novela Rubiales uma degeneração civilizacional que ameaça o pilar essencial da essência humana - que é ímpeto?
sábado, 16 de setembro de 2023
Palomar
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Aposto
Aposto que também tu és uma teimosa e que gostas de escolher o teu caminho, que preferes falhar sendo tu do que acertar sem que o resultado venha de ti, das tuas premências, dos teus anseios, da tua profunda inquietação, da tua loucura também. Aposto.
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
Acontece sempre nos primeiros dias de Setembro
Começa com um fervilhar de rins ao inicio da tarde, uma substância amorfa que se instala nas entranhas como um incómodo parasita, um veneno adocicado que tem a cor opaca do vazio e a espessura remota da névoa, um desejo inconsciente que embriaga a lucidez, uma chama, um acorde indefinido, uma sonolência mais pesada, a repulsa e simultaneamente a fascinação.
segunda-feira, 7 de agosto de 2023
Bosquejo da Jornada
quarta-feira, 26 de julho de 2023
Adosinda
segunda-feira, 24 de julho de 2023
Projecto de Alvenaria
Não queiras inventar um palácio onde tudo seja perfeito. O bom-gosto é virtude de curador de museu. Se fores a desprezar o mau-gosto, não terás nem pintura, nem dança, nem palácio, nem jardins... nem salário.
quinta-feira, 13 de julho de 2023
quarta-feira, 12 de julho de 2023
O outro
Usam um léxico especial, feito de carinhos e palavras imbuídas de brandas melodias, gestos e hábitos muito próprios a conotar a relação proibida, rituais imperceptíveis que, certamente, precedem calorosos encontros carnais, uma espécie de sociedade secreta onde não entra quem quer que seja. Um dia chegará o latido repentino, a sensação que jaz silenciosa, o choque emocional, a queda da pedra basilar - a consciência da condição. Ainda haverão de tentar fazer tábua rasa, alienar-se, ou escapar à angústia que trazem dentro de si, afundarem-se, desaparecer, desligar todos os sentidos para não perceberem aquilo que vão apreendendo, ou que receiam apreender, no ambiente circundante, adormecer para só despertar quando o pesadelo da perda já se tiver desvanecido. Mas o cálice amargo da culpa não admitirá meias medidas e será esvaziado até ao fundo, transformando "templos" de amor em "infernos" de má consciência.
quinta-feira, 6 de julho de 2023
Moscatel quente
sexta-feira, 30 de junho de 2023
Alípio
quarta-feira, 28 de junho de 2023
Questiúncula
sábado, 17 de junho de 2023
Comissão de Inquérito
quinta-feira, 15 de junho de 2023
Chamamento
terça-feira, 6 de junho de 2023
Quitéria
Acabou de chegar aos cinquenta. Trabalha, paga a sua casa, os seus impostos, vai ao cinema sozinha, faz férias com alguns amigos, passa o Natal com a família. Janta num tabuleiro em frente ao televisor, deita-se, lê um pouco e para adormecer, acaricia-se, tranquila, na sua cama, fecha os olhos e conta a si própria uma história, sempre a mesma, a sua fantasia preferida. Depois dorme como uma criança.
quinta-feira, 1 de junho de 2023
Tio Lencastre
É o que vai acontecer contigo, meu rapaz. Os teus pais fizeram-te nascer, fizeram-te crescer, depois a vida encheu-te sucessivamente de desejos, de pesares, de alegrias e de sofrimentos, de cóleras e de perdões, até que te fez ingressar de novo nela. E, no entanto, tu nem és aquela criança, nem aquele estudante, nem aquele profissional, nem aquele esposo, nem aquele novo velho. Tu és aquele que se cumpriu. E, se sabes ver em ti um ramo que baloiça, mal pegado à árvore, hás-de nos teus movimentos gozar uns fogachos de eternidade. E tudo à tua volta se tornará momentaneamente eterno. A eterna frescura da manhã, a eterna escuridão da noite. Depois, o tempo deixará de ser uma ampulheta que vai gastando a areia, e far-te-á lembrar um ceifeiro que ata a gavela.
Parabéns, meu rapaz. Vai lá.
terça-feira, 30 de maio de 2023
Maria Luísa
quarta-feira, 24 de maio de 2023
Albertino
Nunca votou. Era um principio ao qual sempre esperou nunca ter de renunciar. Até agora, resistiu a todas as tentações, a todos os processos de culpabilização, de desestabilização, às pressões, às chantagens, às avalanches de argumentações fundamentadas ou de argúcias falaciosas, agarrando-se ao único cântico do seu modesto breviário, convicto de que, todos sabemos que as eleições são uma cilada para uma pouco invejável congregação. Modestamente esforçou-se, pois, por nunca fazer parte dela. Esta atitude pode parecer um tanto limitada, a certos espíritos subtis, mas a harmonia cristalina desta concisão sempre lhe agradou. Não é este o momento de desenvolver quais os motivos. Digamos simplesmente que, para além da intangibilidade deste intróito, nunca apareceu, ao longo da sua vida, um único candidato em busca de votos a quem confiasse as chaves do seu carro ou de sua casa, em suma, um tipo com quem gostasse de partilhar uns momentos de pesca à linha.
Esta manhã encontrei Albertino no café. No meio de um croissant e um Tutti Frutti, Albertino perguntou-me se já escolhi o molho com que quero ser comido na próxima legislatura.
terça-feira, 9 de maio de 2023
sábado, 6 de maio de 2023
Luzia
quarta-feira, 3 de maio de 2023
Menandros
Repete-se até à náusea que o mundo de hoje é um teatro. E isto é assim não porque a natureza tenha per si alguma semelhança com os cenários dos teatros, nem com os anfiteatros helénicos, nem com os múltiplos cenários suspensos de pano ou papel dos teatros à italiana, nem com a sala negra do velhíssimo teatro de vanguarda. São os políticos. Políticos como os nossos, que teimam em fazer das suas vidas quotidianas, dos seus perigosos relacionamentos, das suas insanas prestações sociais e politicas, do seu amor próprio e mesmo da sua solidão, embora a sua profissão não seja a de actor, autênticas peças de teatro. Prestando-se a papeis miseráveis e a representações medíocres como se nessa inevitável ficção, na borda do palco, a cortina nunca se levantasse. Mas levanta, e do outro lado está o publico. Um publico numeroso, um publico frágil, incompreensivelmente silencioso.
sábado, 29 de abril de 2023
Dança
E quando a violência dos nossos corpos atravessar o canal da linguagem, passar para além das palavras, para além de tudo o que possam dizer as palavras, ocupar-me-ei do teu corpo, centímetro a centímetro, explorá-lo-ei, acariciá-lo-ei, farei jorrar prazer de cada poro da tua pele. Será a grande ocupação da minha vida: dar-te prazer... tratar-te como uma pequena rainha. Apenas ouvirás o roçar do meu corpo contra o teu, as gotículas de suor que rolam na tua pele, a minha boca que as vai sorver, que subirá à tua orelha e repetirá incansavelmente: "diz-me o que queres". Depois, enxaguarei o teu corpo dessa água que corre, dessa sede que jorra entre a tua e a minha pele, essa sede nunca saciada que encontra mil fontes novas em mil recantos escondidos no teu corpo espantado. Por fim deixaremos a beira-mar, os rochedos, a espuma suja das vagas, afogar-nos-emos naquela água salgada, lamber-nos-emos, respirar-nos-emos, ergueremos a cabeça para recuperar o folgo e partiremos para mais longe dançando no desconhecido caminho marítimo dos nossos corpos ...
quinta-feira, 13 de abril de 2023
Beijo
terça-feira, 11 de abril de 2023
Caxinas
quarta-feira, 5 de abril de 2023
Disrupção
quinta-feira, 30 de março de 2023
quarta-feira, 22 de março de 2023
Miradouro
Através das pálpebras semicerradas vejo indefinidamente o mar ao longe. A cidade ao fundo está invisível, atolada nas suas excreções. No fim do horizonte, por cima do mar, surgem zonas de sombra. O céu encobre-se. Depois começa a chover nas zonas negras. Passado um bocado, por sobre o mar, formou-se um grande tetrágono de luz branca. O tetrágono de luz pluvial desaparece. Outras tempestades rebentam. Por toda a parte. Por cima da minha cabeça surge uma pequena cortina de chuva ensoalhada. Rompendo a cortina, umas aves de cauda bifurcada. Pode ter chegado a Primavera. Mas, quando chegar a casa, tenho de ver se as margaridas já furaram o relvado.
terça-feira, 21 de março de 2023
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
sábado, 11 de março de 2023
Observatório
Desde os campos de cultivo às prateleiras dos hipermercados, passando pelos carregadores, os camionistas, os descarregadores e os açambarcadores, o preço dos produtos agrícolas aumentaram cerca de sessenta por cento. Depois de pagarem os impostos, a hipoteca, a contribuição agraria, os manda-chuva, os dízimos e primícias, os camponeses que os cultivam, trabalhando de sol a sol, recebem apenas dezasseis por cento do valor total do produto. O suficiente para, juntamente com o usuário particular, morrerem de fome. Mas sob o império da lei e da graça dos Senhores.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
Interpretando Courbet
@Jean-Baptiste Mondino
Entrar nesse edifício e passear por esse labirinto de corredores infinitos, desde a cave ao piso mais alto, é passear pela tragédia humana. Às vezes pela comédia divina. Gosto de ir aí. De me perder. De te encontrar.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023
Palomar
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023
É curioso, mas é um fenómeno do nosso tempo
É curioso, mas é um fenómeno do nosso tempo.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
Entrolhos
Ultrapassada que está a grande marca que Salazar deixou em Portugal - a mordaça - eis que surge a psique colectiva dos entrolhos. A mentalidade de, com os olhos tapados, criar celeuma, dar tiros no escuro, forçar o avanço da solução de reserva mesmo que esta seja inconsistente ou simplesmente não exista. É difícil fazer avançar um país com este intelecto. Com este vinculo K. Com esta estupidificação maligna.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2023
Palomar
Desta mesma janela edénica onde o Senhor Impontual já tinha aprendido a pandemia, de onde já tinha aprendido as doenças da liberdade e da falta dela, de onde aceitou a honra do exílio. Observador atento, o Senhor Impontual, perscruta agora o céu, o horizonte vazio, a lenta cronologia das horas, os rabiscos gigantes das nuvens. Na sua cabeça, palco dilatado, pairam agora frases sarcásticas sobre guerras e politicas de massas que não devem ser pronunciadas com ligeireza. Em combate, sempre os mesmos. O cataclismo deu-se, estamos entre os escombros, desatamos a construir novos pequenos abrigos, a alimentar novas esperançazinhas. Estás vivo, diz de si para si mesmo, no presente vivo, e não no passado vivo. Parou de chover, a tarde serena acolhe o Senhor Impontual. Uma quietude hospitaleira, sem pensamentos nem perguntas, apenas a magnificência do dia cinzento. Ao fundo Zucchero interpreta majestosamente Miserere (Allegri). Uma espécie de banda sonora do tempo parado. O presente, ou seja, aqui e agora.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
terça-feira, 10 de janeiro de 2023
Outra de coisa nenhuma
Hoje, mais a frio e a destempo, eu que gosto de Lobo Antunes e de livros, facilmente percebo que há memórias mais extensas que outras e que o ritmo e a intensidade desta sequência dependem grandemente da taxa de hormonas, do humor das moléculas, da rapidez das sinapses, de um espírito obnubilado, de um ventrículo palpitante e, por vezes, de um membro sexual inquieto. Já Borges me tinha ensinado algo parecido. O que não deslustra Lobo Antunes.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
Ainda hoje é Dia de Reis
quarta-feira, 4 de janeiro de 2023
Pelé
Discordo em absoluto desta imortalidade que se quer, à força, dar às coisas e às pessoas em todas as suas formas. O fim é requisito de qualquer existência. Da nossa existência, que é fugaz por definição e por necessidade. As coisas que realmente valem a pena terminam. A sua finitude é condição fundamental da sua importância e... da sua beleza.