Chegou no comboio das 13:38. Eram apenas meia-dúzia de pessoas na sua carruagem. Não foi incomodado durante a viagem. Não leu nenhum livro nem jornal, limitou-se a encostar a testa de lado no vidro húmido, viu a paisagem desfilar sem lhe prestar grande atenção e os leves pingos de chuva a baterem contra o reflexo da sua cara. O matraquear metálico das rodas ao longo dos carris não o perturbou; passado pouco tempo deixou mesmo de o ouvir. Desceu na estação terminal. Sabia que não iria mais longe, que tinha chegado, que era o fim da viagem. Olhou o relógio. O comboio não se tinha atrasado. Não chegou adiantado. Atravessou a gare sem se cruzar com ninguém. Ninguém o viera esperar. Levantou o colarinho, acendeu um cigarro e avançou em direcção à rua. Não tinha nenhuma mala com ele. A morrinha depositava pequenas gotículas nos seus cabelos grisalhos, o vento ligeiro soerguia por momentos a orla da sua gabardina fluída. O mundo resumia-se a ele. Novamente. Nunca foi perfeito, nunca andou direito na linha que Deus fez.
Obrigado, meu Caro. Pela música, pela opinião independente, pela carolice.
Obrigado, meu Caro. Pela música, pela opinião independente, pela carolice.